A morte do inocente

Tarciso de Assis Jacintho

O Brasil mata diariamente 66 jovens de 15 a 29 anos, aponta o Atlas da Violência 2023, produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). Estimada com base em dados do Ministério da Saúde de 2021, a média expõe o drama social provocado pelos assassinatos no Brasil e permite calcular seus impactos econômicos: tomando como referência o PIB de 2022, essas mortes representam perdas de R$ 150 bilhões por ano ao país.

O Atlas da Violência aponta que, dos 47.847 homicídios oficialmente registrados no Brasil em 2021, mais da metade (50,6%) vitimou jovens de 15 a 29 anos, num total de 24.217 pessoas. De cada 100 brasileiros nessa faixa etária que perderam a vida, 49 foram vítimas da violência letal – ou seja, estariam vivos se tivessem nascido em um país menos violento ou se o Brasil tivesse superado a crise na segurança pública. Amapá, Bahia, Amazonas, Ceará e Alagoas são os cinco estados que mais registraram mortes violentas a cada 100 mil jovens. Na outra ponta, São Paulo, Santa Catarina, Distrito Federal, Minas Gerais e Rio Grande do Sul são as unidades federativas menos perigosas para brasileiros e brasileiras de 15 a 29 anos.

A despeito da gravidade do quadro, o Atlas aponta alguns avanços na comparação entre 2021 e 2020. Houve queda de 6,2% no número absoluto de homicídios de jovens, mas a taxa segue em 49 para cada 100 mil pessoas dessa faixa etária. A redução vem sendo registrada desde 2017, ano em que o Brasil registrou o ápice da violência letal. Das 27 unidades federativas, 18 conseguiram reduzir o número de assassinato de jovens de 15 a 29 anos. Mais uma vez, porém, importantes estados da região Norte, como Rondônia e Amazonas, vão na contramão da tendência e elevaram os índices em 2021.

Estes dados aterradores nos sensibilizam? Muitos tem se valido deles para engendrar pretextos para discursos que a despeito de uma profunda desconexão com a realidade, encontram ecos em nós. Ora por não nos importarmos, ora porque os ecos coadunam, pois dados estão distantes de nós. Este início de ano perdi um aluno. Da notícia do desaparecimento ao desfecho trágico, como uma tragédia anunciada, passaram-se sete dias. Neles, consumi, descansei, me informei, cuidei dos meus interesses e da minha família. Para além de uma tristeza profunda, sinto também que neles, também fracassei como sociedade.

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Tarciso de Assis Jacintho, professor e Administrador de Empresas

 

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