Sergio Oliveira Moraes
Grato, Ivan, por enviar a matéria do “Coisas da Roça” sobre a “Origem, preparação e popularidade da pamonha”. Lá encontrei que o nome “pamonha” se origina da palavra tupi pa’muñã, que significa “pegajoso.” Gostei, adotei!
Gostei e adotei para meu olhar quando recebi o convite do 50º Salão Internacional de Humor de Piracicaba para a abertura da exposição “Pamonhas Ainda,” ocorrida no dia 2 último, na Biblioteca Pública Municipal. Repeti o nome, que você já sabia, “pegajoso” – né? É. Adotei.
Há o salão principal, no “Engenho”, e mais 10 mostras paralelas em vários locais da cidade, afinal “todo artista tem de ir aonde o povo está/se foi assim, assim será”. Caro, assim como “Nos Bailes da Vida”, que os artistas estejam sempre onde estamos.
Pamonhas, “pegajosos”, no nome dessa mostra que escolho para falar de todas, pois pude estar presente à abertura. Pegajosa no local, a Biblioteca Municipal. Livros me são pegajosos, “Os livros são objetos transcendentes/Mas podemos amá-los do amor táctil”. Quem poderia melhor resumi-los, opondo a transcendência ao amor táctil, como Caetano o faz? Como descrever o estar imerso em um ambiente cercado de livros por todos os lados? Que nunca nos faltem as bibliotecas públicas.
Lá conheci artistas, outros reencontrei. Uma artista apenas, escultora. Pouco, muito pouco. Reencontrei pessoas, conheci outras, prosas entremeadas de comentários sobre a qualidade, a beleza, a perspicácia das obras, tudo muito gostoso – artistas piracicabanos e piracicabana(s), no corpo e na alma, na alma. Que nunca nos falte a arte local.
De repente, o chamamento literalmente familiar. O “transcendente” título, o “Pamonhas, Ainda”, tornou-se objeto que podíamos “amar” com o amor táctil. “Pamonhas, pamonhas, pamonhas/Pamonhas de Piracicaba”. Lá estavam elas, arrumadinhas nas bandejas, quentinhas, cuidadosamente embrulhadas nas palhas das espigas. A uma, dediquei-me despindo uma lentamente, ritual tão repetido e inesperadamente novo – nas pontas dos dedos o pegajoso das pamonhas de Piracicaba. Que nunca nos faltem as pamonhas de Piracicaba.
O anfiteatro, as falas do diretor do Salão de Humor, do Secretário Municipal de Ação Cultural, dosorganizadores da mostra. Ouvir sobre os primeiros cartunistas da cidade, a divulgação das obras, o histórico muito rico e necessário, parte consta em painéis no local. Aqueles cuidados e gentilezas de contar a origem – a história – sempre me tocam, você sabe meu caro. Que nunca nos faltem os cuidados e gentilezas.
Na fala de um dos organizadores, conhecer o projeto que desenvolve nas escolas, levando sua arte, possibilitando aos jovens encontrar um caminho. Caso de uma jovem que o projeto pôs em contato comum professor local e, graças às aulas e ao seu talento, está no caminho da arte em transcendente aprendizado. Que nunca nos falte quem leva a arte às escolas, a solidariedade e arte que transcendente fronteiras.
E, meu caro, ao dar os trâmites por findos naquela manhã de sábado, conclui: que nunca nos faltem (os) “Pamonhas, Ainda”, “pegajosos, ainda”.
Fraterno e pegajoso abraço.
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Sergio Oliveira Moraes é físico e professor aposentado Esalq/USP