Professora Bebel
Quando, em 2022, nos colocamos a tarefa de derrotar o bolsonarismo e a extrema direita então no poder, sabíamos que a vitória eleitoral representaria não o fim, mas o início de um processo.
Para derrotar Bolsonaro e um sistema de poder que estava promovendo a destruição da economia brasileira e a retirada massiva de direitos trabalhistas e sociais, foi necessária a construção de uma aliança amplíssima, com setores de direita e segmentos de esquerda que até então vinham caminhando de forma separada do Partido dos Trabalhadores.
Isso se fez, porque a maioria da população brasileira dava sinais de que queria e apoiaria essa aliança, para que o Brasil pudesse sair da rota destrutiva em que se encontrava. O presidente Lula venceu as eleições por uma margem estreita de votos, demonstrando que a extrema-direita continuaria muito forte, sobretudo porque no primeiro turno da eleição elegeu grandes bancadas na Câmara dos Deputados e no Senado Federal.
Ao mesmo tempo, o chamado “centrão” também manteve grandes bancadas nas duas casas legislativas e detém a presidência da Câmara dos Deputados, na figura de Artur Lira, que já fora o fiador do governo Bolsonaro e articulador do orçamento secreto, com todas as consequências que conhecemos. Dentro do próprio governo, ao mesmo tempo, mantém uma correlação de forças que reproduz a aliança eleitoral, com representantes do agronegócio, de um lado, e dos trabalhadores sem terra, de outro. De ambientalistas e de empresários com interesses econômicos em áreas de preservação. De movimentos que defendem a educação pública e outros setores vinculados a empresários da área da educação.
É neste cenário de dificuldades e contradições que o Brasil vem avançando. Avança na retomada das políticas públicas para mulheres, negros, pessoas com deficiências, pessoas LGBTQIA+. Avança na retomada da valorização do salário mínimo, em políticas de incentivo à criação de empregos, na retomada do Bolsa-Família, do programa Minha Casa, Minha Vida, Luz para Todos e tantas outras iniciativas que nos governos Lula e Dilma permitiram ao nosso país melhorar a vida de toda a população. Também retomamos nossa presença soberana no mundo. O Brasil não é mais um pária internacional, rejeitado ou ignorado pelos principais países e sim uma presença requisitada não apenas junto às nações mais ricas, mas em todos os quadrantes do planeta.
Hoje, o principal freio ao crescimento econômico no Brasil é a alta taxa de juros, que vem sendo mantida no patamar de 13,75% pelo Banco Central, presidido por Roberto Campos Neto, cuja notória ligação com o ex-presidente Jair Bolsonaro se expressa em suas atitudes e opiniões e na recusa em baixar os juros alegando a alta inflacionária. A inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), no entanto, desacelerou de 0,71% em abril para 0,23% em maio, contrariando previsões pessimistas que previam um estouro da inflação neste ano. Veremos qual será o pretexto para manter juros altos diante desses dados.
A queda na taxa de juros significará espaço para política de crédito que permita às grandes e pequenas empresas investirem na expansão de seus negócios, gerando mais oportunidades de emprego e renda. Permitirá também ao cidadão comum renegociar dívidas bancárias e outros financiamentos. Aliás, para dívidas até R$ 5 mil essa oportunidade já estará sendo oferecida por meio do programa Desenrola Brasil, do Ministério da Fazenda. A expectativa é a de que 70 milhões de pessoas possam utilizar esse facilitador para quitar suas dívidas em até 60 meses e que isto reduza a taxa de inadimplência das famílias em 70%.
Por outro lado, no Congresso Nacional, a aliança entre a extrema direita e o centrão dificulta a tramitação de projetos importantes para o Brasil e impõe derrotas como a votação do marco temporal criado pelo governo anterior para a demarcação de terras indígenas. É fundamental que o Senado Federal rejeite esse projeto e isso só poderá ser obtido com muita mobilização.
Aliás, esse é o caminho que devemos manter e ampliar, a mobilização social, nas ruas, nas redes, em Brasília e em todos os espaços para o que Brasil possa seguir avançando. Estamos em disputa e não podemos baixar a guarda.
______
Professora Bebel, deputada estadual (PT), segunda presidenta da Apeoesp