Antonio Lara
Não existem mais namorados como antigamente, aqueles que sabiam fazer poéticas declarações de amor e, muito mais, escrevê-las em linguagem eloqüente. Nestes tempos de telefonia celular e internet, as comunicações amorosas se abreviaram como mensagens comerciais. E é inútil vasculhar baús à cata de maços de papel vermelho amarrados com fitas de cetim brancos. As famosas cartas de amor. Que fim as levou?… Lembro-me ainda do Love Letters, uma canção americana que fez muito sucesso num velho filme americano; e de uma outra canção, na voz de Isaurinha Garcia, que falava da mensagem amorosa trazida pelo carteiro. Quem as canta hoje em dia?
É uma pena. Pois as cartas de amor fizeram gênero e muitas delas passaram para a história. Veja-se a famosa correspondência de Abelardo e Heloisa, os dois amantes infelizes do século 12 que, separados por um amor perseguido, encerraram-se cada qual num convento, trocando, a partir dali, cartas inflamadas de uma paixão muito mais humana que divina. Os dois amantes que pediram, em cartas, que fossem enterrados juntos, tornando possível uma união póstuma, já que em vida o preconceito e a intolerância os haviam separados. De muitas cartas que eu lera na adolescência, por exemplo, em que Heloisa alude à impetuosa correspondência entre os dois: “Quando o céu inspirou a invenção das cartas foi para o alívio das desgraçadas, para algum amante desterrado ou para uma amada cativa. Elas vivem, falam e exprimem tudo quanto o amor tem de mais terno; por esse meio os desejos de um novo coração se comunicam sem temor; a alma se abre inteiramente aos olhos do amado; a ausência fica enganada e, passando a distância dos lugares, um suspiro vai da Índia ao Pólo”. Um pouco mais sobre o amor de Heloisa e Abelardo, ver o filme “Em nome de Deus”.
Pensando nos amantes franceses reunidos depois de mortos, volto à lembrança para o Brasil, de Machado de Assis e sua amada Carolina Augusta Xavier de Novais. Outro reencontro póstumo daqueles que se amaram ternamente em vida. E como o saberíamos com segurança se o testemunho do próprio escritor, em carta de 2 de março de 1868, não o houvesse confessado para a posteridade?… Ei-lo: “Tu pertences ao pequeno número de mulheres que ainda sabem amar, sentir e pensar. Como te não amaria eu? Além disso, tens para mim um dote que realça mais; sofreste. É minha ambição dizer à tua grande alma desanimada: levanta-te, crê e ama; aqui está uma alma que te compreende e te ama também”. Eis uma declaração nada casmurra do criador de Bentinho e Capitu. E que atravessa mais de um século para nos dizer que os homens, quando amam sejam ou não românticos ou realistas, são tomados das mais puras e singelas emoções.
E por falar em realismo, vamos até Portugal em busca da palavra emocionadas do grande mestre Eça de Queiroz. Apaixonado pela noiva Emilia, irmã de seu grande amigo, o Conde de Rezende, Eça escrevia em 22 de janeiro de 1886: “Nunca, como agora, me sorriu tanto e tanto me encantou a esperança de vivermos sós e um para o outro. Parece-me que definitivamente perdi o interesse pelo mundo. Mundo no sentido de mundanidade. Tudo que não seja viver escondido espiritual numa casinhola pobre ou rica, com uma pessoa que se ama, e no adorável conforto espiritual. Possa Deus, na sua infinita bondade, permitir que esse seja o nosso Destino. Arte e Amor – com A grande! Eles merecem-no; são as duas expressões supremas da vida, completam-se um pelo outro, e fora deles tudo é nada”.
Não decididamente, as pessoas hoje não sabem mais escrever cartas de amor. Talvez porque não saibam mais escrever.
Mensagem a minha amada Mariah, lembrando que: o nosso amor é real, é sentir, é querer, é tocar, é alcançar, é pedir para ser amado. Amor é você e eu. Amo-te!
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Antonio Lara, articulista, [email protected]