Libertação dos escravos 13 de maio de 1888 em Piracicaba

Noedi Monteiro

A “Gazeta de Piracicaba” folha diária (1882-1937) estampava em sua edição de n. 843, de 15 de maio de 1888, uma terça-feira, o fim da escravização negra no Brasil. Iniciada oficialmente no país, por Martim Afonso de Souza, fundador de São Vicente, a 22 de janeiro de 1532, a trazer, os primeiros 400 negros de Guiné na África. Foram 356 anos de senzalas, grilhões, açoites, pelourinho e forca. Mas também, de muitas fugas, insurreições, rebeliões, quilombos, revelação de líderes, resistência, e a esperança, de um 13 de maio, ou outro dia qualquer que viesse com a liberdade. Há três séculos e meio esperava-se pela tão sonhada Redenção de 1888, mas, os 135 anos desde o fato, não têm reparado o negro com uma forma de compensação, pois cota é muito pouco. Não se o tem reconhecido como cidadão do bem digno de todo respeito. Não tem posto fim da racismo, à violência policial escancarada contra ele. Dias que serão necessários séculos para chegarem?

Em 13 de maio de 1888 havia ainda matriculado na Coletoria de Piracicaba/SP, por seus senhores, 1.131 escravizados libertados, por força da Lei Áurea. De 1873 até 30 de junho de 1887, Piracicaba foi detentora, da terceira população escravizada da Província de São Paulo, como 5.339 indivíduos, contra Campinas, 15.427 e Bananal, no litoral paulista, 6.093. Ao todo no Brasil foram contemplados com a liberdade 723.419 escravizados, que restavam na condição, dos milhões trazidos para o País. Na Província de São Paulo foram 107.329. O maior número estava em Minas Gerais, 191.952. Outras províncias: 162.421 (RJ), 76.838 (BA), 41.122 (PE), 15.169 (AL), 10.535 (PA).

O jornal “A Província de S. Paulo” foi o porta-voz por telegrama à cidade, sobre a aprovação da terceira discussão do projeto da Lei Áurea, no Senado, ocorrida, às 14h30 do dia 13. Luiz de Queiroz (1849-1898) também havia anunciado. Às 15h00, a lei estava assinada. Regozijo tomou conta do povo piracicabano informado por folhetos e oralmente sobre o fato, que fluiu à noite para o largo da matriz concentração das comemorações, com banda de músicas, pirotecnia, casas iluminadas, oradores e políticos. Piracicaba possuía 10 mil habitantes, 2.500 prédios, 36 ruas e 9 largos.

A parte mais interessada em toda a história local formada por alforriados, livres, afrodescendentes, sexagenários libertados por lei de 1885 em grande número, uma significativa parcela da população, festeja ainda em 12 de maio, sábado, com ladainha, na igreja de São Benedito, ornamentada por Clarindo José da Silva (1850-1892) e animação da banda Azarias de Mello antecipando-se a Isabel e ao Senado. No dia 13 pela manhã, uma procissão partindo da igreja São Benedito carrega a imagem do Coração de Jesus dirigindo-se à capela de Santa Cruz e Matriz de Santo Antônio, aos acordes da banda “São Benedicto” recém-formada por escravizados. O restante do dia, partindo da igreja de São Benedito percorreram as principais ruas da cidade sob o manto da alegria, discursos, e aplausos, até às 23h.

Os negros não abriram mão de seu ponto de referência na cidade a igreja e o largo de São Benedito. Já os festejos no largo da matriz compartilharam um segregacionismo velado à Praça José Bonifácio, em que por décadas, os negros não circulavam por ela nos finais de semana e feriados, imperativo aos brancos, senão pelas ruas paralelas. Isso deixou de acontecer a partir de 1974.

______

Noedi Monteiro é professor, pesquisador, cronista, remanescente da Sociedade Beneficente 13 de Maio de Piracicaba, e do IHGP (Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba)

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima