Douglas Alberto Ferraz de Campos Filho
Com as mudanças de temperatura, a incidência de doenças broncopulmonares e alergias aumentam principalmente na região sul e sudeste do Brasil.
Doenças broncopulmonares e alergias foram o tema de um workshop realizado em São Paulo. O evento, promovido pelo grupo farmacêutico alemão Boehringer Ingelheim, reuniu o médico pneumologista José Roberto Brito Jardim, da Escola Paulista de Medicina e da Sociedade Brasileira de Pneumologia, o pediatra Charles Naspitz, da Sociedade Brasileira de Pediatria, também ligado à Escola Paulista de Medicina e o alergista Fábio Morato Castro, da Universidade de São Paulo e da Sociedade Brasileira de Alergia e Imunopatologia de São Paulo. Em pauta, a asma, a rinite e a doença pulmonar obstrutiva crônica, chamada de DPOC.
“A asma não tem cura, tem controle’’, afirma o médico Charles Naspitz. Com a chegada do inverno, aumenta a incidência das doenças broncopulmonares e alergias, principalmente na região sul do País. Além da mudança de temperatura, os dias frios resultam em casacos mais pesados e cobertores, que ficam guardados durante o resto do ano, acumulando ácaros e poeira, vilões para os alérgicos.
Carpete Preocupante, a asma atinge hoje cerca de 15% a 20% da população brasileira, com números que impressionam. A doença, caracterizada por tosse e chiados, é de natureza alérgica. Segundo o pediatra e professor Charles Naspitz, ‘‘dos anos 60 para cá triplicou o número de asmáticos’’. As explicações para isso ‘‘são as mudanças da qualidade de vida, de ambientes fechados e pouco ventilados’’. Para Naspitz, a criança passa cerca de 90% do seu tempo em algum lugar fechado, seja dentro de casa ou na escola. O carpete lembra Nasptiz, já foi um sinal de ascensão social, mas acumula ácaros na poeira domiciliar.
Outra explicação é a mudança nos hábitos alimentares, causando uma modificação da flora intestinal. Também entram os hábitos de higiene. O pediatra lembra que há algum tempo foi noticiado pela imprensa que as crianças que tomam mais banhos têm mais asma. Na verdade, o arsenal de imunização da criança superprotegida acaba se desviando para as alergias. ‘‘O desocupado arruma algo para fazer’’, diz Naspitz, citando uma pesquisa feita na Alemanha com crianças das partes oriental e ocidental. Na Alemanha Oriental, onde as crianças eram criadas sem tantas proteções, foram detectados menos casos de crianças asmáticas. A explicação é que na parte ocidental, as crianças eram mais protegidas nos primeiros anos. Para Naspitz, infecções nos primeiros anos não seriam tão más, pois criam anticorpos.
Sem cura a asma, diz Naspitz, é hoje a 4ª ou 5ª causa de maior gasto do SUS, e é crônica. Um dos problemas dos asmáticos, segundo o professor, é que a aderência do paciente ao tratamento é pequena. ‘‘Se o paciente melhora com o aliviador, ele só usa o aliviador’’, diz o médico, que explica que além dos aliviadores (broncodilatadores), o tratamento inclui os controladores, que são os corticóides inalados. ‘‘Hoje, os efeitos colaterais dos corticóides inalados são reduzidos’’, explica.
‘‘A asma não tem cura, tem controle’’, afirma Naspitz. E por isso a importância da ‘‘aderência’’ do paciente ao tratamento é tanta que o professor recomenda campanhas educacionais entre os pacientes e os próprios médicos. Cuidados ambientais também são necessários. Segundo o professor, cerca de 85% dos asmáticos são sensíveis aos ácaros. O que não significa uma recomendação do uso de acaricidas, pois até mesmo as bolotas fecais dos ácaros, depois de mortos, são prejudiciais. Em uma grama de poeira são encontradas 250 mil bolotas fecais.
Os ácaros também atrapalham a vida dos pacientes com rinite – inflamação da mucosa nasal caracterizada por um ou mais dos seguintes sintomas: coriza, espirros e pruridos. Além dos ácaros, entram também os animais domésticos, os fungos, as baratas, o pólen e o cigarro. Quem sofre de rinite deve evitar a poeira acumulada, principalmente nos livros e almofadas e também tirar os animais da casa, enfatiza o médico alergista Fábio Morato Castro. ‘‘O nariz é a parte do pulmão em que se pode colocar o dedo’’, brinca Charles Naspitz. O tratamento da rinite, além dos cuidados com o ambiente, também inclui remédios – aliviadores e controladores e imunoterapia, ou seja vacinas para alergias respiratórias.
Enfisema A DPOC, ou doença pulmonar obstrutiva crônica, é a ocorrência da bronquite e enfisema ao mesmo tempo, diagnosticada pela ‘‘presença do obstáculo ou limitação do fluxo aéreo devido a ocorrência de bronquite crônica ou enfisema’’. Segundo o médico penumologista José Roberto Brito Jardim, a doença é a quarta causa de mortes nos Estados Unidos. Outros números apresentados por Jardim constatam que tanto a DPOC como o câncer de pulmão estão aumentando em número de mortes, enquanto outras doenças diminuem.
‘‘O enfisema é irreversível’’, enfatiza o médico que ilustra a situação com uma bexiga e um saco de papel. A bexiga é elástica, e pode ser esvaziada depois de cheia. Com o saco de papel, o mesmo não acontece, permanecendo cheio de ar. Na comparação do médico, a bexiga é o pulmão normal e o saco de papel é o pulmão com enfisema.
Para o especialista, o grande vilão é o cigarro. ‘‘No Brasil, 30% da população é fumante. Dentro desta porcentagem, 20% a 30% vão ter DPOC’’, garante. Como o enfisema é irreversível, a questão se baseia ‘‘em evitar a causa’’, argumenta o médico. Ou seja, evitar o cigarro, que também influencia a vida dos fumantes passivos e prejudica a vida dos alérgicos.
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Douglas Alberto Ferraz de Campos Filho, médico pneumologista