Brasil profundo: diversidade e representatividade

Adelino Francisco de Oliveira

 

Um novo governo sempre guarda uma interessante dimensão de esperança, de recomeços, contemplando expectativas políticas em torno de outras possibilidades no campo da economia, das dinâmicas sociais e das relações humanas. Há uma espera ativa por um novo tempo, tomado por múltiplas oportunidades e demarcado pela justiça social e ambiental, capaz de projetar um futuro aberto, solidário e promissor.

A esperança ganha um sentido histórico e efetivo na medida em que passa a ser traduzida em ações políticas.   A instituição dos ministérios da Igualdade Racial, dos Povos Indígenas e dos Direitos Humanos representa a efetivação de uma visão revolucionária, que avança para construir um país que reconhece, por meio de leis e políticas públicas, a dignidade cidadã de todos os brasileiros e brasileiras, em um movimento de acolher, integrar todos os grupos étnicos do país. Esses três ministérios carregam um significado simbólico, mas também trazem perspectivas muito reais e concretas na direção de se afirmar, com altivez e orgulho, a identidade genuína e peculiar do povo brasileiro.

A diversidade talvez seja a maior riqueza de tudo o que significa o Brasil. Diversidade que aparece nas marcas mais profundas da cultura. Diversidade que se faz presente nas várias etnias, mas também na geografia e nos biomas, compondo o cenário natural de um país esplêndido, portador de uma potencialidade incrível. Diversidade que se manifesta ainda em tantas formas regionais e belíssimas de se conceber a vida, revelando uma ética plural do humano.

O projeto de um país homogêneo, sedimentado em estruturas de opressão e exploração, formatado por um poder autoritária e fechado a toda diversidade e representatividade revela-se opaco e sem brilho algum. Definitivamente esse projeto, de conteúdo neofascista, não serve para o Brasil. Na verdade não serve para nenhum povo. A força, pujança e beleza do Brasil se encerra justamente em sua irresistível diversidade. Negar essa realidade é desconhecer o sentido mais profundo e genuíno do Brasil.

Com ampla extensão territorial, rios, florestas, uma fauna encantadora, o Brasil carrega um povo, homens, mulheres, crianças e jovens que podem estar em comunhão profunda e intensa com a natureza, os valores, a economia e a arte. Um novo tempo para um povo irresistivelmente belo e plural. Fato que em tempos obscuros e obtusos houve quem flertasse com o neofascismo e seus impulsos de morte. Todavia, há uma força, um apelo, uma energia que inspiram brasileiros e brasileiras a seguirem em frente, buscando protagonismo e a transformação criativa, reiventando-se como povo único. Este espírito deve tomar este novo governo, representativo e avesso a um pensamento monolítico que não aceita a alteridade.

Tempo para esperançar, tempo para criar, tempo para espantar os pensamentos odiosos e intolerantes, saudando o futuro, a alegria, a temperança, o diálogo, o amor! A política, implementada pelo novo governo, deve apontar para esse outro tempo, no reencontro do Brasil com seu sentido mais interessante e profundo, pleno em diversidade e representatividade. Que os ministérios da Igualdade Racial, dos Povos Indígenas e dos Direitos Humanos se constituam como a vanguarda de um Brasil reconciliado com sua população, consciente de sua identidade cultural.

 

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Adelino Francisco de Oliveira, professor no Instituto Federal de São Paulo, campus Piracicaba; doutor em Filosofia e Mestre em Ciências da Religião

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