Adelino Francisco de Oliveira
O terror! A Praça dos Três Poderes, na genial e futurística arquitetura de Oscar Niemeyer, símbolo da harmonia dos poderes da República, foi maculada pelo terror e vandalismo golpista! Em Brasília, ocupando as sedes dos Três Poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário –, o bolsonarismo neofascista, em ato de aberto terrorismo, buscou avançar para um golpe de Estado contra a democracia, contra a ordem constitucional. A invasão e tomada momentânea das sedes dos Três Poderes da República por terroristas travestidos de patriotas, promovendo depredação e destruição do patrimônio público, representam uma maior radicalização do golpismo neofascismo.
Modus operandi! Primeiro vem a estratégia de se produzir fakenews e desinformação, visando manipular as consciências e insuflar os ânimos. O passo seguinte consiste em demonstrar força, criando o caos social por meio de aglomerações em espaços públicos (em frente de quartéis). O processo de radicalização e terror prossegue, com a invasão das instituições republicanas, buscando intimidar e desestabilizar a ordem constitucional. O ponto derradeiro seria a tomada do poder, rasgando a Constituição Federal e impondo um golpe definitivo contra a democracia.
O ovo da serpente! A violência golpista que eclodiu no Distrito Federal, ameaçando as sedes Institucionais dos Três Poderes que compõem a República, foi plantada, adubada e irrigada ao longo dos últimos 6 anos, sob a omissão, o silêncio, a complacência de muitos setores da sociedade, que não vislumbraram, num determinado momento, o risco que a democracia viria a correr. Parlamento e Judiciário não foram capazes de fazer a leitura política das consequências deletérias à democracia do golpe iniciado em 2016, que depôs o governo democraticamente eleito da presidenta Dilma Rousseff. A cabeça da cobra! O neofascismo golpista é uma serpente com muitas cabeças. Em Orlando se encontra uma delas. Uma outra acabou de ser eleita para o senado. Na defesa da democracia, torna-se imperioso e urgente identificar, localizar e cortar cada cabeça peçonhenta.
Ataque emblemático aos símbolos da democracia! O pensador Iluminista, o francês Montesquieu, no século XVIII, teorizou sobre a separação e harmonia que deve existir entre os três poderes da República. Evidenciando um ódio cego e irascível à democracia, o bolsonarismo neofascista ultrapassou todos os limites! A invasão, violação e depredação das sedes institucionais dos Três Poderes representa uma agressão simbólica e também muito concreta ao Estado Democrático de Direito. Nunca houve, por parte do bolsonarismo, a intenção de se fazer uma oposição política dentro dos marcos constitucionais. O projeto de poder bolsonarista neofascista sempre compreendeu a ordem democrática como um obstáculo para suas pretensões autoritárias e ditatoriais.
A democracia continua sob ameaça! A tarefa política que se impõe é defender a ordem constitucional. A questão é que as Instituições democráticas até agora não foram muito eficazes em conter as ameaças de golpe e seus desdobramentos. Caberá ao povo sustentar a democracia e a ordem constitucional. A sociedade civil organizada deve se manter mobilizada nas redes sociais, nas ruas e nas instituições, protegendo o arcabouço democrático, a normalidade e as liberdades constitucionais. Agora, a defesa é pelo legado civilizacional contra a barbárie, o pensamento irracional, o vandalismo e a violência que buscaram dominar as relações sociais e institucionais nestes últimos anos. Imprescindível levantar a voz e resistir. Estamos protegendo as nossas conquistas, os direitos de cidadania e um futuro sustentável, politicamente solidário, socialmente acolhedor, sem neofascismo, arbitrariedades e horror!
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Adelino Francisco de Oliveira, professor no Instituto Federal de São Paulo, campus Piracicaba; Doutor em Filosofia e Mestre em Ciências da Religião; [email protected]