José F. Höfling
O ano de 2022 chega ao fim deixando para trás a “desconstrução” de conquistas Sociais, Econômicas e Educacionais anteriores…ocasionando, portanto, marcas profundas de anos muito difíceis dada a incompreensão de um pensar político-social avesso à uma democracia plena vital ao nosso País e ao resto do mundo. No que diz respeito à Amazônia, presenciamos mensalmente taxas de desmatamento surpreendentes, com um número recorde de desmatamento e queimadas criminosas associadas à sucessivas tentativas de aprovação de projetos nocivos à população local e para o meio ambiente no Congresso Nacional. É incontável o número de marcas sociais e ambientais com as quais teremos de conviver ainda por muito tempo, mesmo que governos sucessivos e democratas se disponham a reverter…Somente a Amazônia perdeu 45.586 Km² de floresta durante estes anos passados, conscientes que somos de que não foi o único rastro de destruição ambiental quando olhamos para trás…Se não fosse ainda o bastante, a população brasileira, principalmente os que vivem em situação de vulnerabilidade, sentiram e ainda sentem na pele as consequências extenuantes da crise climática e os impactos da volta da fome em meio à uma grave crise econômica…indivíduos revirando lixeiras foram visíveis ao longo desses anos a fim de matar a fome…
Graças aos ativistas, doadores e apoiadores de várias entidades sociais, pode-se responder a altura relembrando histórias do passado, chamando as pessoas para a ação no presente, a fim de se ter uma visão de futuro possível. O engajamento contra o Pacote da Destruição, permitindo o avanço do garimpo ilegal em terras indígenas, tem sido fundamental para a sobrevivência das comunidades indígenas, onde aqueles que vivem às margens do rio lutam por sua existência e pela preservação da floresta de seu território. Ocupou-se Brasília ao lado dos povos indígenas contra o Marco Temporal e muitos estiveram presentes na COP27, a fim de se exigir ações reais e eficazes contra a crise climática. Um segmento da população brasileira, se dedicou a mostrar a centralidade da pauta socioambiental nas eleições mais importantes para a história do Brasil desde a redemocratização. Ao lado de dezenas de organizações da sociedade civil, defendeu-se a democracia com afinco. E vencemos…
Agora estamos diante de um novo capítulo para o meio ambiente e para a democracia. Nosso desejo de ano novo? Que possamos não só reconstruir tudo o que foi desmontado nos últimos quatro anos, mas que também tenhamos espaço para avançar na construção de um novo projeto de país – um que entenda o valor da Amazônia em pé, da proteção da nossa biodiversidade, de garantir comida de verdade (e sem veneno!) na mesa da população brasileira.
Em 2023, devemos continuar lutando para que a conservação da Amazônia e dos demais biomas seja prioridade e para que o Brasil retome seu protagonismo na agenda climática. Pressionar, sem hesitar, por um modelo de desenvolvimento que supere a economia da destruição, que honre e respeite os povos indígenas e as populações tradicionais, que fomente uma transição energética justa e inclusiva e que assegure a todos nós, sem exceção, o que está previsto na nossa Constituição: um meio ambiente ecologicamente equilibrado que garanta o presente as futuras gerações… Sem terror, sem tentativas de ruptura da ordem democrática atacando o judiciário, sem prática da necropolítica, voltada para a promoção da morte, sem fake news, sem promover a dupla mensagem onde coisas são ditas e não ditas, vamos sair deste trauma e desta devastação mental e, para isso, somente restabelecendo a ordem democrática plena!
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José F. Höfling, professor universitário