Adelino Francisco de Oliveira
Acendendo às luzes da festa! A palavra adventus (do latim) pode ser traduzida como chegada. Na mística cristã, o Advento tem espaço no primeiro tempo do ano litúrgico, composto pelas quatro semanas que precedem o Natal. O Advento configura-se como um tempo singular e profícuo de preparação para se viver a fundamental e marcante experiência cristã do nascimento de Jesus Cristo. O grande mistério de Deus que se faz menino e vem viver a experiência humana. Advento é preparação para a chegada de Deus conosco!
A tradição do Advento encontra fundamento bíblico na missão profética de João Batista, convocando à penitência e ao batismo (Jo 1,19-28). Coube a João aplainar os caminhos para a chegada do Cristo. Esse não deixa de ser um tema teológico que permanece também para os dias de hoje. Em uma questão hermenêutica, pode-se indagar como se preparar para o Natal de Jesus? O que representaria hoje aplainar os caminhos do Senhor? Qual a penitência que se deve praticar? No plano ético, quais as renúncias que precisam ser feitas? No campo político, em que sentido a sociedade deve ser transformada como preparação para o Natal?
A comunidade joanina procurou enfatizar que João Batista não era o Messias esperado e sim o seu anunciador. Neste ponto, a narrativa neotestamentária, densa em ensinamentos, também alerta sobre os perigos e tentações de se querer assumir o lugar central na dinâmica do anúncio e do testemunho. Aquele que anuncia é apenas instrumento, o fundamental é a mensagem anunciada. Em um ambiente tão narcisista como o tempo contemporâneo, tende-se a inverter esta lógica, de maneira a tornar aquele que anuncia mais importante do que a própria mensagem revelada. Jesus deve ser sempre o centro da mensagem religiosa anunciada.
Para além de rituais e gestos meramente externos e vazios de espiritualidade, a grande preparação que o período do Advento convida é de caráter interior e ético. A expectativa da chegada (nascimento) de Jesus Cristo – que é o Dom Divino doado e revelado à humanidade – exige uma preparação, dinamizada por uma profunda e autêntica revisão de vida. Alcança-se aqui o ponto fundamental: o Advento deve significar um tempo de intenso mergulho interior, a possibilitar a revisão de ações e valores. Neste caso, o Advento se traduz em uma expectativa fecunda e transformadora, na medida em que o ser humano é convidado a se desfazer de tudo o que é banal e supérfluo para viver, exclusivamente, a esperança que se plenifica na chegada de Jesus, a atribuir sentido e beleza existenciais.
Em um contexto em que a sociedade se encontra cindida pelo ódio, o tempo do Advento configura-se como um chamado à conversão, para uma profunda e radical mudança de mentalidade, abrindo-se para experiências calcadas na solidariedade, na fraternidade, na empatia e no mais gratuito amor. Como preparação para a chegada do Natal de Jesus é preciso superar, deixar para trás, todas as formas e manifestações de ódio e de ressentimento.
O Advento prepara e convida para a chegada de Deus menino. É o amor, em sua expressão mais pura e perfeita, que vem habitar entre nós. Qual a força e intensidade dessa mensagem religiosa? Como ela pode ainda tocar e sensibilizar uma sociedade tão fechado e cega por tantas mentiras e desinformações? O Advento anuncia a chegada do Dom e Graça. É Deus quem vem fazer morada conosco. No silêncio, na contemplação é tempo de buscar a luz, vislumbrando a cultura da paz e da esperança.
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Adelino Francisco de Oliveira, professor de Filosofia no Instituto Federal de São Paulo, campus Piracicaba; [email protected]