Psicologia dos vaiados…

José Osmir Bertazzoni

 

Aguenta coração (eu também já fui vaiado): é vaia! E muita vaia!

Nós vaiamos ou somos vaiados!! A gente vaia… já dizia o Capiau velho e cansado. Vozes com tons e timbres pluridimensionais, como é dolorido o tilintar atordoante das vaias, mas o povo vaia.

Na psicologia das vaias, nós vaiamos por qualquer motivo. No momento que estendemos nossos sentimentos na dor de um momento vivido, fazemos do grito nossa maior defesa, mesmo que seja uma forma de defesa ou dissabor provocado por algo ou alguém.

A vaia não é violenta, mas é agressiva e dolorida quando ouvida, não há como explicar o incômodo e a dor de ser vaiado em público se nunca o fomos. É a psicologia da vaia que nos empurra para entendermos esse fenômeno humano de linguagem. A pergunta aos entendidos: objetivo ou subjetivo é a dor de ser vaiado?

Vaiamos quando estamos tristes ou estamos felizes, sempre na abastança e na abundância, é a expressão de falarmos um sentimento coletivo sem palavras, é algo que somente o animal humano desenvolve. Nesses aspectos, somos inimitáveis, únicos e raros.

O Capiau, idoso e cansado, falou que foi um torcedor do XV quem inventou o tal de vaiar quando um cururueiro falhou no seu repente, tudo foi muito de repente; mas teve vaia!

Vaiar carece de revolta angustiada queimando na alma, dor no âmago, dor que não doí na carne e não comporta um único vaiador; solitário torna-se um vaiador fracassado, vaia mesmo é coletiva.

Como nasce a vaia, ela é instantânea, não precisa de muito tempo para ser mentalizada. Será que não existe nem um tratado sobre a sociologia da vaia, psicologia da vaia, antropologia da vaia? Será que se trata do que a vaia?

A vaia é uma onda que vem e vai, com a mesma intensidade da dor sofrida. Quando disparada, ela irrompe envolta de carga eletrizante.

Se, às vezes, forem contra autoridades públicas por travessias, ampara o ato solene de vaiar, aí a eletricidade contida acende como uma usina hidroelétrica, pois é dolorido para quem tomou e um alívio para quem vaiou. Fica tranquilo, diz o Capiau ao Doutor: Vaia é energia limpa, desengasgada; para um conhecedor, mais motiva que encabula.

O que estou escrevendo não é com direção a nenhuma personalidade, não é para ninguém, mas é para aliviar a dor de quem recebe a vaia. Nos finais dos anos 60, Roberto Carlos havia recebido uma enorme vaia, a única de sua vida, num festival de música realizado em São Paulo. Tudo porque as torcidas organizadas não gostaram da música que ele defendeu naquele festival de MPB e que era de autoria do ótimo compositor Luis Carlos Paraná.

Em verdade vos digo, entender as vaias é coisa de gente grande, elas não foram endereçadas ao Roberto, e sim a todo mundo que subiu no palco (sua estafe). Dito, na época, pelos apresentadores Blota Júnior e Sonia Ribeiro, foi difícil manter o controle do espetáculo naquele dia. Até quem não cantou levou vaia, recordou Roberto Carlos, em entrevista na Rádio Bandeirantes, no dia 07 de outubro de 1994.

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José Osmir Bertazzoni, jornalista, advogado

 

 

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