Sérgio Oliveira Moraes
Os meses que antecederam a eleição de 2018 e os que a sucederam foram de leituras e buscas atormentadas no texto bíblico de alguma passagem que me permitisse entender nossas manifestações de intolerância, ódio e rancor – mesmo quando nos diziam serda fé cristã. Comecei minhas leituras dos Evangelhos por um exemplar que a Unimep doava a estudantes ingressantes (saudades da Unimep!). Nada. Passei para a CNBB, nada. Talvez a tradução direta do grego de Frederico Lourenço, nada. Talvez a Bíblia King James, de 1611, nada. Talvez um original grego, uma edição interlinear, nada. Talvez a Bíblia Mais Bela do Mundo, nada! Não encontrei mínimo “espaço” para intolerância, ódio, rancor… Pelo contrário, reverberamem mim o versículo 45 de Mateus 25: 31-46: ‘Amém vos digo: quando não fizestes a um destes mais insignificantes dos meus irmãos, a mim o não fizestes’. O versículo 27 de Marcos 2: 23-28: “E disse-lhes: ‘ O sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado’”. O versículo10, de Lucas 3: 10-14: “E perguntavam-lhe as multidões, dizendo: ‘Que devemos fazer?’”. A belíssima metáfora de João Batista, concluída no versículo 30 de João 3: 27-30: ‘Ele tem de crescer; e eu, de diminuir”. O 11 de João 8: 3 -11: “Nem eu te condeno. Vai. A partir de agora não voltes nunca mais a errar”. Todas essas leituras não me tornam um cristão; na melhor das hipóteses, um bom leitor. Cristianismo é atitude, isso aprendi das leituras atormentadas(é Lucas 3, versículo 10).
Outra autodenominação (pode estar ligada)trata do “conservadorismo”.Leitor da chamada linha anglo-saxônica, que teve início com Edmund Burke, intensifiquei a dedicação há uns dois anos. Da mesma maneira que nossas manifestações de intolerância, ódio, rancor me levaram aos Evangelhos, manifestações de “conservadorismo” me fizeram retornar aos textos de Burke e seguidores até Roger Scruton.
Há que deixar claro que as citações que faço aqui são confissões da minha ignorância, reconhecimento de estudo. E que não falo do “conservadorismo” de costumes (João 8: 3 -11 reverbera),mas no domínio da “filosofia política”. Assim, as perguntas que me movem referem-se à nossa capacidade de destruir o presente, impensável na linha conservadora de meu interesse. Perguntemos: um conservador defenderia o ataque às instituições democráticas? Volta ao passado? Não! A utopia no passado, o tornaum reacionário e no futuro, um revolucionário; o conservador não os distingue (voltaremos ao tema com as devidas citações bibliográficas).
Localmente: um conservador defenderia a desfiguração de sua cidade, a perda da memória afetiva das praças, das ruas, da Pinacoteca no “Jardim da Cadeia”, da Biblioteca Municipal? Acham mesmo que dá para intitular-se “conservador” defendendo esse tipo de atitude? Acham que a Resolução no. 16 de 1993 que “descobriu-se” incompletaem 2022, devendo ter o conteúdo alterado pelo Projeto de Resolução No. 8/2022, seria defendida por um verdadeiro conservador? As senhoras e os senhores vereadores e vereadoras acreditam mesmo que impedir manifestações no estacionamento, por exemplo, contribuirá para diminuir as manifestações de intolerância, ódio, rancor nas redes digitais? Acreditam que excesso, ofensa, ameaça de alguns (indefensáveis), sejam motivos para punir a todos?
Há tempo para refletir até o dia 25 próximo, data da possível votação. Mas peço: o façam desprovidos desses mesmos sentimentos ou poderão estar cometendo os mesmos excessos que alegam querer combater.
Em tempo (é a terceira vez que pergunto) e a vacinação para crianças de 3 a 4 anos e a segunda dose adicional para quem tem mais de 30? E aí, Prefeitura e Câmara? Como ficamos? Vamos esperar até quando?
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Sergio Oliveira Moraes, físico, professor aposentado da Esalq/USP.