José Osmir Bertazzoni
Desde que fomos sociologicamente humanizados nos perguntamos sobre o futuro. É inconteste que muitas vezes isso está identificado ao caso do marxismo: Marx também estava convencido de ter identificado as leis inelutáveis do devir histórico, capazes de explicar o destino radiante ao qual a humanidade necessariamente seria chamada.
Em razão de todos os acontecimentos ocorridos nestes últimos cinco anos com a humanidade, o “futuro” é aguardado com esperança, ou investigado com muita preocupação, a depender do ponto de vista (quem aperta o botão) a partir do qual é descortinado.
Dentro de uma visão inocente, existem os que são convencidos por uma cooperação cada vez mais solidificada pelos Estados (países): poderíamos sentir esse momento com a contribuição decisiva da ciência e da tecnologia que, em tese, só poderia nos levar a uma situação mais confortável.
Vive, em alguns de nós, a esperança de um destino magnífico e progressivo – que pelo menos a uma melhora significativa nas condições humanas com o advento da globalização. Esses, portanto, depositam grandes expectativas nas diversas “agendas” criadas por organizações como a ONU, ou por associações privadas como o Fórum Econômico Mundial.
A OIT (Organização Internacional do Trabalho), cujos signatários são 176 países que se encontram todos os anos na Conferência Internacional do Trabalho em Genebra, estabelece normas de proteção ao trabalho decente e as garantias dos trabalhadores a partir de Normas Regulamentadoras cujo principal objetivo é a paz social e a manutenção do trabalho humano com justiça e dignidade.
Preceituamos que não se deve ter medo do futuro, mas sim do próprio “medo”. Mas há quem – longe de compartilhar essa visão tranquilizadora dos próximos anos – se autodenuncie por uma visão despótica. Pior: aqueles que temem o advento de um novo modelo de convivência social informado por uma lógica transumana, ou mesmo anti-humana, são instantaneamente rotulados com epítetos conhecidos e desacreditados.
Quais são as ideologias humanas que praticam o despotismo e a concentração de rendas nas mãos dominadoras de grupos privilegiados? Poderíamos colocar essas perguntas para diversos grupos que pensam diferente e se influenciam por ideologias fabricadas com a finalidade de iludir a si próprios e à sociedade com objetivos eleitoreiros. Contudo, existem reais fontes extremistas cujo objetivo é anti-humano, como o fascismo, o nazismo e a extrema direta, segundo as quais o capital deve se concentrar nas mãos de um pequeno e privilegiado grupo dominante.
Muitos podem perguntar: e o comunismo, como ficaria nessa análise? Tranquilamente respondo, sem quaisquer rodeios: diferente das ideologias antes expostas, o comunismo foi elaborado como uma política de “Estado” e não de pessoas ou grupos, porém também cometeu suas agruras e hoje se penitencia com o estabelecimento de um capitalismo de Estado nas suas próprias estruturas, de modo que o Estado detém o capital em desfavor da minoria, igualzinho o capitalismo que não revela seus usurpadores. Sofre do mesmo veneno: “ganância humana”.
A evolução de todos esses processos de experimentação humana é a social-democracia ou o socialismo democrático, cuja ideologia é uma síntese das boas experiências aproveitadas em favor de uma sociedade mais justa, fraterna e igualitária.
A grande dúvida e a grande pergunta é sobre se não pode haver uma perspectiva diferente, uma maneira diferente de abordar o tema, em suma: uma forma “neutra”, por assim dizer, capaz de sair dos esquemas descritos acima.
Nesta operação, um historiador israelense talvez possa nos ajudar. Referimo-nos a Yuval Noah Harari (artigo publicado no Repubblica.it em 2020), “um dos intelectuais mais seguidos do planeta”. Um boato, portanto, não é facilmente arquivado nas fileiras dos notórios teóricos da conspiração.
Harari descreve este ponto de vista: “Os organismos são algoritmos e os humanos não são indivíduos, eles são ‘divisíveis’. Ou seja, os humanos são um conjunto de muitos algoritmos diferentes sem uma única voz interior ou um único eu. Os algoritmos que compõem um ser humano não são gratuitos. Eles são moldados por genes e pressões ambientais, e tomam decisões de forma determinística ou aleatória, mas não livremente. Um algoritmo que monitora cada um dos sistemas ativos em meu corpo e cérebro pode saber quem eu realmente sou, como me sinto e o que você quer. Uma vez desenvolvido, tal algoritmo poderá substituir o eleitor, o consumidor e o observador”.
Conquanto o aspecto mais perturbador da análise de Harari diga respeito ao “tipo” de sociedade com a qual “provavelmente” nossos descendentes terão que lidar (mas talvez nós também possamos vê-la, infelizmente): “Alguns indivíduos constituirão uma pequena e privilegiada elite de humanos empoderados. (…) Por outro lado, a maioria dos homens não será empoderada e, como resultado, eles se tornarão uma casta inferior dominada tanto por algoritmos de computador quanto pelos novos super-homens”.
O poder financeiro ultrapassa os limites do poder do Rei, do Imperador, ou do que os imaginários mais sombrios – de todos aqueles que são inexoravelmente tachados de teóricos da conspiração – insistem em nos alertar sobre o futuro (na verdade está muito próximo dessas previsões).
E sobre as presentes e presumidas “boas intenções” de quem trabalha arduamente nas diversas agendas que visam alcançá-las: talvez não seja tarde demais para um debate sério sobre o assunto.
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José Osmir Bertazzoni, jornalista, advogado