O que diria o Santo Padre, vereadores e vereadoras?

Sergio Oliveira Moraes

 

Senhoras Vereadoras e Senhores Vereadores da Câmara Municipal de Piracicaba, já lhes passou pela cabeça perguntar ao Santo Padre, que vive em Roma, o que ele acharia do projeto que pretende instituir na Câmara Municipal de Piracicaba a tal “Medalha de Mérito Estudantil Professor Olavo de Carvalho” (Processo: 97/2022)? O que diria o Santo Padre?
Já pensaram em perguntar a ele, caso tivessem a oportunidade, o que Sua Santidade pensaria sobre homenagear o senhor Olavo de Carvalho, que em meio a palavrões pregava que “Albert Einstein foi um farsante e inventou a Teoria da Relatividade…”, “Isaac Newton é portador de uma burrice formidável…”, “Galileu Galilei não passou de um charlatão protegido pelo Papa”?
Sei que os senhores e as senhoras, e tampouco eu, teríamos condições de perguntar a ele sobre essa questão, mas acho que podemos imaginar quais seriam suas respostas. Pretensão de minha parte? Vejamos.
Isaac Newton o “portador de uma burrice formidável”, é imediato, está sepultado em local de destaque na Abadia de Westminster, em Londres. Tempos difíceis não dá para ir confirmar pessoalmente, mas creio que poderemos nos satisfazer com uma rápida busca na “web”.
E o que dizer de Albert Einstein – o “farsante que inventou a Teoria da Relatividade” – e de Galileu Galilei – o ”charlatão protegido pelo papa”? Posso imaginar o olhar complacente de Sua Santidade nos recomendando a leitura atenta do livro “Galileu pelo Copernicanismo e pela Igreja”, de autoria de Annibale Fantoli, com tradução de Dom Sergio Braschi , publicado pelas Edições Loyola, em 2008. Vou reproduzir aqui dois trechos do capítulo 7:
“A grandeza de Galileu é conhecida de todos, como também o é a de Einstein; contudo, ao contrário deste último, que homenageamos hoje diante do colégio cardinalício no palácio apostólico, o primeiro teve de sofrer muito – por parte de homens e organismos da Igreja. O Concílio Vaticano II reconheceu e lamentou certas intervenções indébitas (…) (João Paulo II, 1979, n.6)” – página 408 do livro citado.
“ Assim, a nova ciência, com seus métodos e a liberdade de pesquisa que eles supunham, obrigava os teólogos a se interrogarem sobre seus critérios de interpretação da Escritura. A maior parte deles não o soube fazer. Paradoxalmente, Galileu, homem de fé sincera , mostrou-se sob este aspecto mais perspicaz do que seus adversários teólogos (João Paulo II, 1992, n. 5)” – página 411 do livro citado.
Na contracapa desse livro, as senhoras e senhores encontram: “ O livro de Annibale Fantoli foi publicado originalmente na coleção Studi Galileiani, série de publicações do Observatório Vaticano, criada para atender ao desejo do Papa João Paulo II – expresso por ocasião da comemoração do centenário de nascimento de Albert Einstein ( novembro de 1979)—- de estimular a colaboração entre teólogos, cientistas e historiadores….”
Creio que os trechos apresentados das falas do Papa João Paulo II, bem como as credenciais do livro sejam suficientes para instigá-los a uma leitura atenta, caso paire alguma dúvida. Merece destaque que a Comissão para estudo da relação entre Igreja da época e Galileu, dito simplificadamente, foi instituída pelo Papa João Paulo II em discurso proferido em 10/11/1979 à Pontifícia Academia de Ciências, por ocasião do centenário de nascimento de Einstein.
Vejam, túmulo na Abadia de Westminster para Isaac Newton! Comemoração do centenário de nascimento de Albert Einstein! Pontifícia Academia de Ciências! Discurso final em 1992, mais de uma década analisando documentos da Igreja para concluir sobre a fé sincera e perspicácia de Galileu Galilei.
Aí, em 2022, nos deparamos com a negação de tudo e todos para homenagear o senhor Olavo de Carvalho. Por favor, senhores e senhoras vereadoras e vereadores, pensem um pouco! Ou perguntem ao Papa!

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Sergio Oliveira Moraes, professor doutor, docente aposentado da Esalq/USP.

 

 

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