Desafios da Secretaria Municipal de Educação

Lilian Lacerda

 

Pouco mais de um ano de governo, o Prefeito de Piracicaba Luciano Almeida (DEM), no mês de fevereiro, indicou um terceiro nome para assumir uma das secretarias mais importantes: a Educação. Com a missão de substituir Gabriel Ferrato, que é o vice-prefeito da cidade e se afasta temporariamente alegando problemas de saúde, Bruno Cesar Roza assumiu, interinamente, a pasta da Educação.
O secretário interino assume com o desafio de democratizar o diálogo e cotejar as insatisfações e as demandas da comunidade escolar.
Apesar de não parecer uma tarefa fácil, a SME necessita de uma gestão que aponte novos rumos e possibilidades e, para que isso ocorra é necessário romper com as práticas que ainda vigoram, ignorando os sujeitos que estão no dia a dia das escolas.
Neste sentido, é preciso uma modernização da SME, de modo a superar aspectos culturais e formalidades que definiram regras retrogradas e ultrapassadas que em nada favorecem um processo de ensino e de aprendizagem de qualidade.
Todavia, como não se trata apenas de apontar as falhas, pensou-se em alguns pontos que podem ajudar a solucionar os desafios que hoje encontramos na rede municipal de educação da nossa cidade:
Investimentos em manutenção – a maioria dos prédios necessitam de investimentos em infraestrutura: armários nas salas, ventiladores, banheiros arejados e funcionais dentre outros. Atualmente, as escolas contam com a “contribuição voluntaria” das famílias para realizarem pequenos reparos e/ou aquisições;
Carga horária de trabalho – no intervalo do diminui e aumenta, os docentes da rede municipal se deparam com a falta de respeito e compromisso, já que se voltou a cumprir a maior parte da carga horária de trabalho na escola e, com a falta de profissionais, muitos professores não conseguem cumprir horário de estudos.
Número de alunos por sala – pesa a quantidade de crianças por sala de aula, muitas vezes em espaços com pouca ergonomia. No caso da educação infantil, perdura as chamadas “salas modulo 2” que conta com uma auxiliar de ação educativa.
Inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais – com um número cada vez maior de crianças com necessidades educacionais especiais por sala de aula, a inclusão não ocorre de fato. Coloca-se a criança na sala, sem qualquer orientação ao professor – que na maioria das vezes não tem formação em inclusão. No decorrer do ano letivo, em alguns casos, tem-se visita do Núcleo Municipal de Apoio Pedagógico à Educação Especial (NUMAPE) que realiza “itinerâncias”, isto é, vai à unidade escolar, observa a criança e faz um relatório que pouco ajuda no processo de inclusão da criança.
Modelo distorcido de formação continuada – com as mudanças de governos tem-se mudanças no projeto educativo que desconsideram a FC como enquanto exigência da LDB 9394/96 que tem por finalidade assegurar aos profissionais da educação o aperfeiçoamento da profissão por meio da intervenção institucional pública (municipal ou estadual). A formação continuada é urgente e necessária e, principalmente, dever superar a mera oferta de artefatos técnicos em detrimento da reflexão, do diálogo e de espaços de troca de experiências.
Desvalorização da carreira docente – o cenário atual nos apresenta uma clara desvalorização da carreira do magistério e esse processo de desvalorização reflete no saber e fazer do docente. Infelizmente, muitos professores encontram-se desanimados e até acomodados com a situação que envolve baixos salários, número elevado de alunos por sala, carga horária extensa, multiplicidade de funções e cobranças, problemas de saúde dentre outras questões.
A partir dos pontos levantados, espera-se que políticos e gestores – afinados com os desafios da educação no século XXI – superem os modelos ultrapassados e passem a mobilizar recursos e profissionais para encarar os principais obstáculos impostos pela conjuntura político-econômica e pelas demandas sociais.
Reconhecer, refletir e encarar com responsabilidade as dificuldades e os desafios aumentam a capacidade de lidar com eles. Um olhar apurado e comprometido possibilita a adoção de novas posturas e práticas a fim de construir uma nova história.

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Lilian Lacerda, doutora pela PUC-SP, psicanalista e pesquisadora.

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