E o passado foi esquecido?

João Ribeiro Junior 

 

Tudo se desenvolveu a partir do momento, diante das pressões internas e externas, que os militares viram-se obrigado a endurecer e vários grupos de esquerda então formados ou ainda remanescente das décadas anteriores, mergulharam na clandestinidade e tomaram o caminho da contestação armada .Impiedosamente massacrados e completamente derrotados, tais grupos perderam o rumo e passaram a atuar a reboque da oposição civil ao regime e voltaram à velha tática de infiltração em sindicatos, igrejas, organizações estudantis,etc. Estes grupos, porém, já não tinham qualquer perspectiva de poder, pois pertenciam a um passado, que jamais retornaria. (Ledo engano). Naqueles dias, a esquerda radical começou a ficar atenta a um novo partido que surgia, um partido que se dizia “obreirista” (dos trabalhadores), de implícita tendência social-democrática, (termo que no dicionário marxista-leninista são ofensas inomináveis, que levou o minúsculo PRC (Partido Revolucionário Comunista), a não aceitar um Partido dos Trabalhadores, que para os comunistas era um partido oportunista, populista, da classe média burguesa.

Mas, na segunda metade da década de 1980 os grupelhos da esquerda marxista-leninista-trotskyda perceberam que, do jeito que as coisas iam, não teriam qualquer futuro. E perceberam também que o PT tinha tudo o que eles não tinham: um líder dito carismático, muitos votos e bom transito entre os sindicatos, a Igreja, o funcionalismo público, a classe média ilustrada e os formadores de opinião da mídia. E que eles, os grupos de esquerda, tinham tudo o que o PT não tinha: uma ideologia definida, um projeto de poder e quadros preparados, treinados (especialmente em Cuba) e experiências de guerrilha. E decidiram então tomar de assalto o partido, operação completada por volta do final da década de 1980. Assim pensavam os mentores desta bem-sucedida estratégia, aplicando a velha tática leninista dos dois partidos (clandestino e o legal) poderiam logo tomar de assalto o poder pela vida eleitoral, como Hitler o fizera, já que a via armada fracassara miseravelmente, tendo como líder Luiz Carlos Prestes, nos idos de 1935. Desde então quase nenhum papel desempenhou na política brasileira até meados de 1960.

Desde o início da década de 1990, para os raríssimos que no Brasil leram Lênin e o entenderam, o projeto dos grupelhos marxista-leninista era claro e óbvio com suas etapas mais ou menos assim estabelecidas: 1) Manter o controle férreo sobre o partido, isto é o PT; 2) Controlar todos os sindicatos e todas as organizações da chamada sociedade civil, expressão na terminologia marxista-leninista, que quer dizer mais ou menos “aqueles que não sabem o que queremos”; 3) Utilizar o partido como via de acesso à presidência através do líder  carismático, Luiz Inácio Lula da Silva; 4) Transformar o líder carismático em marionete do Partido – agora com maiúscula, porque este já seria marxista-leninista e portanto único e absoluto  (Lula apedeuta nada entendeu, mas seu braço direito, José Dirceu, sim); 5) Aparelhar o Estado, isso é, ocupar todos os postos-chave da administração pública com militantes e simpatizantes, sempre os famosos “companheiros de viagem”; 6) Dar o golpe no momento oportuno e transformar o Brasil em uma Republica sindical-popular de perfil cubano-soviético, mas preservando por algum tempo as classes proprietárias, instalando o socialismo e o partido único.  (Esta esperança jamais saiu da cabeça de Lula e de seus conselheiros “intelectuais”) 7) Finalmente, como última etapa, eliminar a burguesia, (a classe média) os latifundiários e todas as classes proprietárias, instalando o comunismo e o partido único,

Esta é a história, sem revisão da esquerda. É importante que se lembre: O mundo foi feito para aqueles que nasceram para conquista-lo e não para aqueles que sonham em fazê-lo, ainda que tenham razão”, como disse o poeta português Fernando Pessoa.

E o povo? O povo perdoa aqueles que com ele se parece, como afirmou Joaquim Nabuco, senador do Império.

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João Ribeiro Junior: advogado (USP), docente de Direito Constitucional e de Teoria Geral do Estado e Ciência Política, e de História, doutor em Educação, mestre em Filosofia (Unicamp)

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