Benza Deus

Carlinhos Gonçalves

 

Era comum levar as crianças para benzerem ou os adultos irem também a uma benzedeira, quando os meio oficiais não resolviam os problemas de saúde. A cidade estava repleta de benzedeiras cada uma com suas especialidades e, com certeza, não falhavam. Benzer ou benção para os que desconhecem o termo eram aquelas ou aqueles que invocavam a proteção do divino sobre pessoas ou coisas.

Em casa além de minha mãe ser dona de uma horta de plantas medicinais como Marcelinha, Hortelã, Poejo, Erva cidreira, Carqueja, Alecrim etc. Tinha ela também uma lista de benzedeiras da cidade para sua informação e das amigas.

O que estou dizendo simplesmente não é crendice popular, pois os povos em todos os tempos utilizaram do poder dessas benzedeiras e benzedores como tabua de salvação para resolver seus problemas de saúde.  Elas tinham o conhecimento profundo das leis da natureza e da psicologia humana, herdaram todo o jeito de aplicá-lo de alguém da família para transmitir a cura a outras pessoas através das rezas e da aplicação das mãos. Na Rússia foram os estarostes que faziam esse papel transmitindo uma antevisão do Sagrado. Quem leu o romance os irmãos Karamazov de Dostoievski –encontrará o personagem Sossima (estaroste), que de maneira impressionante agia em sua proposta. Também não dá para ignorar os índios com seus brujos “curandeiros, feiticeiros” como os Yaqui de Sonora no México – descrito por Carlos Castaneda em sua busca de plantas. Enfim, em todas as culturas e países eles estiveram ou estão ainda presentes com nomes e formas diferentes de operar.

Eu vi na prática a ação dessas pessoas, pois um amigo de depois de levar sua filha ao clinico que não resolveu o problema, optou pela forma alternativa uma vez que sua criança não parava de chorar. Procurou uma benzedeira para aplicar a cura que não pediu nem a presença da criança para o benzimento apenas informações sobre o estado dela, pois a mesma chorava há duas noites e dois dias, com poucos intervalos para o sono.

A senhora chamada Dona. Helena, colocou café na xicara rezou e pediu para ficar em silencio e depois ascendeu um palito de fosforo e jogou dentro da xicara formando uma figura com a fumaça, analisou calmamente o desenho no fundo da vasilha e disse: podem voltar para casa e aguardar a cura. Meu amigo saindo de lá correu para o orelhão e ligou para sua residência perguntando a esposa como estava a filha e recebeu como resposta:- Ela começou a dormir e simplesmente dorme profundamente. Em resumo aquela criança não chorou mais e dormiu recuperando o sono, alegria e o sorriso que era costumeiro em seus lábios. Essas pessoas “curandeiras” tinham com certeza encontro com o sagrado, pois elas canalizavam através de si energias deixando que o sagrado operasse através delas. Se fosse pedir a cada leitor que nos conte um caso sobre benzedeiras ou de alguém da família que testemunhou eu acredito que teríamos uma infinidades de casos para relatar. Portanto, “Benza Deus” que elas existiram e ainda em menor grupo continuam a existir.

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João Carlos Gonçalves, Carlinhos, professor, conferencista, especialista em Marketing Institucional.

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