Plinio Montagner
É bem assim: tudo que vai além dos limites faz mal ou enjoa: abonar, dar, comer, beber, descansar, trabalhar, divertir, consentir, desculpar etc.
Bondade e consentimentos contínuos mais prejudicam do que ajudam. Os “nãos”, principalmente dos pais, estão diminuindo e enfraquecidos, e os filhos criando asas antes do tempo. Isso é ruim, péssimo. Permitir e negar são forças positivas na educação dos filhos e de qualquer pessoa.
A idade da inocência é a melhor para a aprendizagem dos conhecimentos e da formação do caráter. Se a vida é uma sucessão de podes e não podes, crianças educadas sem “nãos” serão adultos desajustados e perigosos à sociedade. Um estranho é capaz de pôr a perder anos e anos de dedicação da família na educação de um filho.
A internet apressou a vida das pessoas; ninguém ouve ninguém; os diálogos cara a cara são intermediados por aparelhos. Há pais que conversam com os filhos por WhatsApp dentro da própria casa.
Idosos não conseguem conversar com jovens é muito difícil. Só silêncio, não há possibilidade de decodificação, nem um minuto ou segundos sem a atenção às mensagens. A comunicação educada e formal foi sintetizada e embrutecida.
A pressa é imperativa e as frases completas se perderam. Ler Machado de Assis uma tortura. Um dos maiores filósofos da humanidade, Kant, por exemplo, uma página ou mesmo um parágrafo é suficiente para os jovens dizerem – “eu não concordo”. Virou mania perniciosa esse individualismo do “eu”.
Os tempos e as pessoas dos verbos foram isolados da gramática. O historiador e filósofo Leandro Karnal dizia numa palestra que havia perguntado a uma aluna: “Você entendeu”? Resposta: “Entendeu”. Coisas do tipo: “Você foi à padaria”? Resposta: “Foi”.
Construir e entender frases subordinadas se tornaram tarefas superdifíceis. E veio a consequência, a linguagem se tornou pessoal e grupal, a gramática pobre e toda arranhada, e os pais sem ambiente, sem tempo e autoridade instituída para os “sins” e “nãos”.
Na família não se sabe quem comanda; não há subordinados nem independentes. Pelo menos deveria ser aquele que banca as contas…
A educação, berço é germe de comportamento civilizado, está difícil seguir os caminhos melhores e segurar as rédeas dos maus comportamentos; nem há quem as segure.
Educação que nada proíbe é amor bandido. E é certo que os consentimentos irrefletidos mais se aproximam do anjo mau do que do anjo bom.
Algumas reflexões sobre a bondade:
“Às vezes precisamos usar métodos diferentes para alcançar resultados desejáveis. A bondade repetida que nunca repreende não é bondade: é passividade. A serenidade que não se desmancha não é serenidade: é indiferença. A tolerância que não replica não é tolerância: é imbecilidade.”
O saber se aprende com os livros, a sabedoria se aprende com a vida. É isso! O tempo muda caminhos, muda pessoas, muda cenários e conceitos. Ser bom em excesso é abrir portas a todo tipo de sugestão e pedidos, que insinua fraqueza, ser influenciável e de pessoa de “personalidade fraca”, como se diz.
Quem tem opinião própria não se preocupa com opiniões alheias nem com a unanimidade. Por isso é respeitado e é mais procurado como companhia, exatamente porque se mantém firme em suas decisões e flexíveis às opiniões alheias.
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Plinio Montagner, pedagogo e professor aposentado.