José Osmir Bertazzoni
Existem homens importantes e os imprescindíveis, dentre os últimos está o caso do arcebispo sul-africano Desmond Tutu, um dos mais marcantes símbolos de resistência ao regime do apartheid e, posteriormente, foi o promotor da reconciliação — viveu 90 anos lutando por justiça e igualdade, morreu e deixou um legado imensurável. Tutu ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 1984 e, agora, ao fechar das cortinas do ano de 2021, no dia 26 de dezembro, transferiu-se para o plano superior, será o conselheiro direto de Deus.
O Bispo Desmond Tutu alcançou fama mundial como incansável oponente ao apartheid na África do Sul. Ativista no campo dos direitos humanos ao longo de sua vida: Tutu usou sua voz em inúmeras batalhas contra a AIDS, tuberculose, pobreza, racismo, sexismo, homofobia e transfobia. Ao anunciar o falecimento do Reverendo Tutu, o Presidente Cyril Ramaphosa expressou, “em nome de todos os sul-africanos, profunda tristeza pela morte, ocorrida domingo, de uma figura essencial na história do país”.
A pergunta é: quem foi Desmond Tutu? Tutu (90), arcebispo anglicano, foi o ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 1984 como símbolo da luta não violenta contra o regime racista. Mas, após o fim do apartheid, depois que Nelson Mandela foi eleito presidente da nova África do Sul, Tutu presidiu a Comissão para a Verdade e Reconciliação (TRC), criada em 1995, que, em um doloroso e dramático processo de pacificação entre os dois lados da sociedade sul-africana, expôs a verdade sobre as atrocidades cometidas durante as décadas de repressão pelos brancos.
O perdão foi concedido àqueles que, entre os responsáveis pelas atrocidades cometidas, confessaram plenamente — uma forma de reparação moral também para com as famílias das vítimas. Em entrevista o presidente Cyril Ramaphosa, disse: “O desaparecimento do arcebispo emérito Desmond Tutu é mais um capítulo do luto de despedida de nossa nação a uma geração de sul-africanos excepcionais que nos legou uma África do Sul libertada”.
A liberdade alcançada pela paz, sem armas, apenas com palavras e compromissos, uma visão de nação e de convivência respeitosa e pacífica entre irmãos, negros e brancos, uma vitória trazida dos ensinamentos cristãos.
Tutu não deixou de criticar o partido majoritário na África multiétnica, o Congresso Nacional Africano (ANC), denunciando sua tendência nepotista e corrupção sob o presidente Jacob Zuma. Ele também não cedeu ao presidente Mandela, criticando-o pelos salários generosos pagos a ministros e colaboradores. Tutu também fez críticas duras à homofobia presente na sociedade.
Desmond Tutu nasceu no ano de 1931, em Klerksdorp, na antiga província de Transvaal, de etnia Tswana, foi ordenado sacerdote em 1960 tornando-se bispo do Lesoto em 1975, depois, a partir de 1978, Secretário-Geral do Conselho de Igrejas da África do Sul. O Bispo Tutu se destacou em razão dos seus sermões, ensinamentos e ações não violentas contra o apartheid. Ao afirmar “compreender as razões” pelas quais jovens negros podem realizar ações violentas, ele condenou a violência de ambos os lados, argumentando que a luta armada tinha poucas chances de vencer, e denunciou a conivência de várias nações ocidentais com a racista África do Sul. Ele também promoveu uma petição para a libertação de Mandela.
Em 1994 (detentor do Prêmio Nobel da Paz), ele foi eleito primeiro bispo de Joanesburgo e, em 1986, arcebispo da Cidade do Cabo. Em 1995, com Mandela como presidente, durante 30 meses liderou a dolorosa fase que forjou o espírito de pacificação, ainda que imperfeito, do país: o julgamento pela Verdade e Reconciliação, que permitiu finalmente expor ao mundo as atrocidades confessadas pelos protagonistas adultos e crianças da repressão de décadas levada a cabo pelos brancos, concedendo-lhes perdão legal e moral e permitindo aos algozes se libertarem das consciências e as vítimas prantearem.
A vida do religioso não foi um fardo fácil de se carregar, Aposentado em 1996, Tutu teve de lidar com o câncer desde 1997. Recentemente, se posicionou a favor da “morte compassiva”. Disse: “Eu preparei minha morte e quero que fique claro que não quero ser mantido vivo a todo custo”. Finalizou: “Espero ser tratado com compaixão e poder passar para a próxima fase da jornada da vida do jeito que eu escolher”.
Fica registrado nesse texto, exemplo que o povo brasileiro precisa assimilar para mudar os rumos da violência e do divisionismo que marginalizam nosso povo e cultivam no país a maior injustiça social do mundo, tendo no racismo endêmico o abandono do povo negro, que por 350 anos construíram, como mão de obra escrava, a riqueza da nossa Nação.
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José Osmir Bertazzoni, jornalista, advogado; e-mail: [email protected]