Antonio Lara
Corrupção, corromper e ser corrompido são faces da mesma droga que está na raiz da violência que nos atinge, seqüestra, mata e faz sofrer.
A crise de segurança é antes uma crise ética, tem na corrupção uma das causas de tanta crueldade, gerando o medo, a imobilidade e a perplexidade que deixam a sociedade atônita e sem ação.
Nas medidas anunciadas e reanunciadas sem que tenham sido implantadas, o combate à corrupção não aparece ou não tem o destaque que merece, pois os corrompidos e os corruptores vão tomando tal proporção e poder que mexer com eles, seus privilégios e ganhos é perigoso para muitas instituições e pessoas que posam de arautos da moralidade.
Ouvimos muitas vezes que os salários podem levar facilitar ou tornar as pessoas mais vulneráveis à força de quem corrompe. Em parte é verdade, mas por outro lado não seria possível elevar os salários de todos os agentes de segurança ao patamar dos seus ganhos com a corrupção, e também há que se considerar que nem todos com salários insuficientes tornam-se corruptos como única maneira de superar as dificuldades que enfrentam.
Corrupção se combate com justiça, superando a enorme diferença salarial que existe entre um soldado e um coronel, entre um investigador, um agente penitenciário e um superior na hierarquia de poder.
Corrupção se combate com, a unificação das polícias, com corregedorias independentes, com um serviço de inteligência e formação técnica e ética.
Corrupção se combate com a organização e participação da sociedade, seja nas ações da polícia comunitária e de conselhos populares de segurança que não entendem segurança somente como repressão e licença para matar.
A sociedade precisa resgatar e recriar o conceito de segurança social. Sem políticas públicas que assegurem a cidadania como conjunto de direitos e deveres não venceremos a dor e o medo que nos destroem.
Sanar a corrupção é tarefa de toda a sociedade em ações com o estado.
Para exemplificar de maneira dura e clara, poderia lembrar como é que chegam os telefones celulares nos presídios? Quanto custa um celular nos vários presídios e delegacias? Todos sabem a tabela de preços, alguns chegam a custar mais de R$ 1.000,00 e significam ganho para quem vende e possibilidades ilícitas para os que compram.
Claro está para todos nós que a corrupção é a mãe da onda de violência que nos atinge, porque suas ações vão desde tráfico de influência, favorecimento, acesso a informações e o material de segurança e de uso exclusivo do estado, lavagem de dinheiro e outras que corroem o caráter, insensibilizam e levam a sociedade desprotegida a buscar soluções mágicas, mirabolantes e favorecem o florescimento de defensores da pena de morte, do rebaixamento da maioria penal, prisão perpétua e outros remédios que envenenam a Humanidade.
A corrupção que nos atinge também nos cega, imposssibilitando de ver caminhos e o pior, fascinando e seduzindo pelo ganho que se pensa fácil. A corrupção é como a droga que torna o dependente químico vulnerável e frágil e muitas vezes acreditando que é capaz de vencer sozinhas suas dificuldades.
Precisamos com urgência, sem anular outras medidas de impacto para cessar a violência, iniciar um grande processo formativo contra todo ato de corrupção e a construção de uma sociedade pluralista, democrática, participativa que exige educação, ética, humanizadora das relações sociais, e onde os limites, as ações de qualquer natureza sejam estabelecidas de maneira clara firme.
Vencendo a corrupção, com certeza, a maior parte da violência desaparecerá e muitas organizações criminosas deixarão de existir.
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Antonio Lara, articulista; [email protected]