Influência da Covid-19 na atividade legislativa municipal

José Osmir Bertazzoni

 

Uma necessidade que permeia todos os seres humanos e que tem por direção as ações da vigilância epidemiológica — que compreende a necessidade da quarentena, a dificuldade financeira, o distanciamento social, as medidas de controle para evitar o contágio e a real necessidade do estado de calamidade pública em razão da COVID-19 — agrava as condições psíquicas, afetando o indivíduo no grupo social a que pertence. Vê-se que, na saúde mental, mais do que em qualquer outro campo, há necessidade de modular soluções para compreender e evitar as crises verborrágicas e agressivas que ampliam a perturbação.

A ameaça de adoecimento e morte e o quotidiano restritivo ou isolador alteraram significativamente os modos de viver e agir dos indivíduos, nesta mesma toada é reconhecível notar rupturas nas relações sociais, é inevitável perceber o aumento das ocorrências de emergência relacionadas a problemas psicológicos como um reflexo da pandemia de COVID-19.

Uma visão importante é notar as formas e formalidade agressivas com que se comporta um conjunto denominado, nesse caso, a Câmara de Vereadores de Piracicaba – SP, na qual seus integrantes estão vulneráveis a reações psicossociais com impacto mental em razão do isolamento da convivência limitada com povo e o sentimento de revolta e auto defesa. As sessões camarárias transformaram-se em ribaltas ensandecidas, com ataques entre os indivíduos e aos que se denominam desafetos políticos, com verbalizações violentas para rebater as críticas.

Antes de se prosseguir ao trabalho legislativo, dever-se-ia entender importantes possibilidades para a discussão epistemológica e ético-jurídica em relação ao cuidado em saúde, a vulnerabilidade se apresenta como uma condição intrínseca de um indivíduo ou grupo, inerente e/ou adquirida, que, diante de uma ameaça/evento traumático, gera transtornos mentais, estimulando a violência e os enlouquecidos discursos de ódio e ataques a tudo e a todos que se projetam críticos ao indivíduo vereador.

A saúde mental é atingida pelo isolamento e pela doença (Covid-19), o que afeta a percepção e pode levar o sujeito imbuído de autoridade à autoproteção e ao aprofundamento de estressores da vida. Por outro lado, a superação destes elementos será alcançada através da adaptação positiva, ou seja, buscar uma noção em que os indivíduos conheçam o processo de maneira a controlar seu estado psíquico de forma sadia.

Convivemos por dois anos com um alto índice de letalidade e de enormes prejuízos econômicos no contexto de uma epidemia ou pandemia, o que gera um alto risco a personalidade públicas, em especial aqueles que contraíram a forma mais grave de infecção da COVID-19 e passaram por internações e cuidados médicos. Uma abordagem racional na atenção à saúde mental implica reconhecer essas consequências e não ignorar a necessidade do tratamento psicológico.

Como consequência de descontroles emocionais e verborragias discursivas, é necessário que haja um olhar mais atento em relação aos efeitos psicológicos. Logo, é importante destacar que abster-se de forma abrupta de uma atividade agressiva e conter atos e atitudes, livrar-se de discursos de ódios e quebrar a rotina tornam-se medidas de prevenção de riscos, mesmo que a curto prazo.

Considerando as argumentações supra dispostas, retiradas de estudos científicos e teses universitárias de mestrado e doutorado, nos convencemos de que dispor de informações fidedignas, transparentes, adequadas e verificadas é essencial para o controle emocional de alguns vereadores, que agem com atitudes e objetivos de usar o seu mandato, explicitando no plenário da Casa de Leis, para atitudes agressivas contra os que julgam desafetos, sem se aperceberem que estão profundamente doentes.

O sentimento de medo é compreendido como uma reação natural e sadia diante de uma ameaça real e eminente, que demanda muitas vezes um agir racional para seu enfrentamento, pautado em informações realistas e concretas, com a finalidade de subsidiar, nesse caso, as medidas de proteção disponíveis. Entretanto, situações em que o medo se faz presente podem, eventualmente, gerar ansiedade, podendo causar, dependendo do grau de intensidade, um grande mal-estar aos indivíduos, acentuando ainda mais os desafios postos pela pandemia.

Nossa abordagem da saúde mental, sobretudo, motiva uma avaliação em diferentes situações, logicamente, isso implica reconhecer que pessoas diagnosticadas com Covid-19 estão suscetíveis a algum tipo de sofrimento mental, essa situação pode gerar intensas reações emocionais e comportamentais, como angústia, medo, tédio, solidão, insônia ou raiva.

Posto isso, como método de conviver com essa situação de forma mais flexível e saudável possível, faz-se imperativo que as pessoas tentem estabelecer uma rotina, ter consigo um momento de autoconhecimento e reflexão, pausas ao assistir noticiários críticos que possam causar angústia ou desconforto, praticar alguma atividade laboral, de relaxamento e lazer, e procurar sempre fortalecer os vínculos – mesmo que à distância – com pessoas que possam possibilitar um bem-estar coletivo maior.

Nesse contexto cabe aos assessores dos vereadores funcionarem como desestimuladores de revoltas, ao revés de estimulá-los a permanecerem contrariados e resmungões aos ataques de críticas que sofrem, somente nessa toada é possível alcançar uma solução coerente para a convivência social.

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José Osmir Bertazzoni, jornalista e advogado

 

 

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