O professor e o jardineiro

Pedro Kawai

 

Certa vez ouvi uma metáfora sobre o papel dos professores na sociedade: são jardineiros das nossas vidas. Eles fertilizam o solo, semeiam, se encarregam de mantê-lo fértil e úmido, e protegem os pequenos brotos, para que cresçam e prosperem. Porém, mesmo com toda técnica, habilidade e experiência, às vezes, há sementes que não germinam, que permanecem inertes, até que o tempo se encarrega de esquecê-las, enquanto outras, se tornam árvores bem enraizadas e geram bons frutos.

Não escrevo hoje, para falar das sementes, mas sim, dos jardineiros. No Japão, jardineiros são mestres, e professores, reverenciados como sábios. Aqui, no Brasil, o prestígio não chega a tanto.

Ao longo das nossas vidas, passamos por vários jardineiros, que nos replantaram, nos adubaram e nos podaram para que pudéssemos crescer fortes e vigorosos. E, me permitam a ousadia de afirmar que, nem todos eles foram ou são professores de profissão, ou por vocação. Nossos avós, pais, amigos e até mesmo alguns desafetos que cruzaram os nossos caminhos tiveram a sua parcela de responsabilidade pelas pessoas que nos tornamos.

O Dia do Professor (e da professora) tem origem 184 anos atrás, em referência à lei que instituiu o Ensino Elementar, por Dom Pedro I, mas foi criado apenas em 1963, através de um decreto assinado pelo ex-presidente João Goulart. Ele não existe apenas no Brasil, aliás, outubro também é o mês em que o mundo todo celebra o Dia Mundial do Professor, no dia 05.

Para Vigotski, psicólogo russo (1896/1934) que influenciou grandes pensadores e estudiosos da pedagogia, os professores exercem um papel mediador entre o aluno e o conhecimento, e “desempenham um papel ativo no processo de educação, modelando, cortando, dividindo e entalhando os elementos do meio para que estes realizem o objetivo buscado”. Tal como os mestres de bonsai, os quais, com sabedoria, experiência e perseverança, cortam, regam e conduzem o arbusto até que se tornem as admiráveis e valiosas árvores.

Contudo, a valorização dos professores, no Brasil, não é uma realidade como em outros países, particularmente, no Japão, onde vivi por uma década. Lá, pedagogos e docentes são celebridades, cultuados e homenageados publicamente, porque aquela sociedade reconhece que toda e qualquer atividade profissional só existe graças ao professor. No Brasil, ser professor é um ato de amor, e de esperança. Foi-se o tempo que estudar para ensinar era uma atividade profissional rentosa, de prestígio e reconhecida pelas autoridades constituídas.

Porém, assim como uma semente é capaz de germinar em solo árido, é possível que os professores reconquistem o seu papel protagonista em nossa sociedade, à medida em que se desvende a verdade aos que insistem em acreditar que a Terra é plana, que as vacinas não salvam vidas, que democracia se garante pela força e que não há saída sem que seja à direita ou à esquerda.

Os professores são aqueles seres especiais que surgem em nossas vidas para nos provocar a buscar respostas, a encontrar verdades, a aprender respeitar o contraditório, a diversidade e a compreender que, até mesmo os ignorantes são sábios em suas limitações.

A pandemia nos tirou muita coisa. Nos sangrou na alma, mas nos trouxe, como compensação, a certeza de que a presença do professor em sala de aula é insubstituível, e que nem toda inteligência artificial é capaz de um gesto de afeto. Nem todos os algoritmos são capazes de compreender a necessidade de se repetir, centenas de vezes se for necessário, uma explicação a quem tanto precisa de atenção; e que nem todo “sistema” tem a capacidade de compreender que as pessoas são únicas e que cada um possui um ritmo para o aprendizado.

A todos os professores e professoras, o meu respeito, a minha admiração e a minha gratidão por jamais desistirem de semear, especialmente em épocas de solo árido. Parabéns e muito obrigado!

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Pedro Kawai, vereador pelo PSDB em Piracicaba, membro do Parlamento Regional (RMP)

 

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