José Osmir Bertazzoni
É conceitual que estamos vivendo dias de escuridão, a ciência sendo ignorada e até o terraplanismo voltou à tona como modismo a ser defendido, mesmo depois de o homem já ter visualizado a Terra do espaço através de sondas espaciais tripuladas e até estações espaciais.
Assim, Platão tratou filosoficamente as questões análogas da luz e do conhecimento em O Mito da Caverna, ou Alegoria da Caverna como é mais conhecido, foi ele um dos mais importantes pensadores da história da filosofia.
Platão (em grego clássico: Πλάτων, transl. Plátōn, “amplo” Atenas (428/338 a.C.) foi um filósofo e matemático do período clássico, autor de diversos diálogos filosóficos e fundador da Academia em Atenas, a primeira instituição de educação superior do mundo ocidental.
Ocorridos estes escritos havia quatro séculos antes de Cristo, Platão já denunciaria a existência da Televisão e como o homem deixaria se levar pelas sombras, ignorando a ciência. Em “O Mito da Caverna” ou Alegoria da Caverna, escreveu Platão uma metáfora que sintetiza o dualismo platônico. Declarava uma análoga relação entre os conceitos de escuridão e ignorância; luz e conhecimento também percebia as distinções entre aparência e realidade. Nesse período fundamentava a sua teoria do Mundo das Ideias.
Esse diálogo foi escrito no livro VII da Obra “A República” como forma de homenagear seu mestre Sócrates.
Nada melhor do que a leitura original e a percepção própria do leitor e suas interpretações interiores, fato que a leitura descortina a criatividade e o pensamento. Nesta obra, Platão descreve homens e mulheres, desde a tenra infância, geração a geração, encontram-se cativos em uma caverna. Nesse local, são impedidos de se mover em razão das correntes que os imobilizavam.
Posicionados sempre de costas sem perceberem a entrada da caverna que os abrigavam, conseguem, assim, apenas visualizar o seu fundo. Atrás dos prisioneiros havia uma parede restrita e uma fogueira permaneceria acesa provocando calor e muita luz.
Por traz desta parede, pelo lado externo da caverna, passam homens que transportavam objetos com formas de coisas e criaturas, sendo que esta mesma parede ocultava os corpos e os movimentos das pessoas livres que difundiam as imagens. Logo, os prisioneiros conseguem ver apenas as sombras desses objetos em movimentos com formas dando lhes, supostamente, “vidas”. Seria como um teatro de sombras durante toda suas vidas.
Sombras projetadas no fundo da caverna são compreendidas pelos cativos como sendo tudo o que existe no mundo, nem um outro tipo de contato com a vida fora da caverna lhes era apresentada.
Fugindo a segurança constante no interior da caverna, ocorreu por descuido a fuga de um desses cativos que consegue se libertar das correntes que o aprisionava. Como sua visão e seus demais sentidos estavam viciados a escuridão e as luzes projetadas na parede da caverna, ele busca a saída para o exterior da caverna, agridem os seus olhos, já que ele nunca tinha visto a luz do externo (Sol) e as imagens que surgia no horizonte.
O Cativo liberto pensa em desistir e retornar ao costume da prisão a qual estava condicionado, conquanto, de forma lenta e gradual começa a observar e admirar o mundo exterior à caverna.
Entraremos em uma narrativa em que o ser humano tem uma boa-fé no seu interior primitivo as suas próprias origens, provido pela compaixão aos companheiros de enclausuramentos, resolve enfrentar o caminho de volta à caverna com o escopo de libertar os outros e mostrar-lhes a verdade da vida livre e farta de novas aventuras e conhecimentos. Durante seu diálogo, Sócrates propõe que Glauco, seu interlocutor, imagine o que ocorreria com esse homem, em seu regresso.
Glauco argumenta que os outros, já acostumados à escuridão, não acreditariam no argumento que aquele que se libertou diria sobre a vida for da caverna, encontraria dificuldades em comunicar tudo o que tinha visto. Por fim, era plausível que os aprisionados notassem no colega que retornava, sinais de loucura devido as verdades que compartilhou no mundo exterior e o matassem sob a alegação de insanidade.
Por uma interpretação sinérgica na Alegoria da Caverna, Platão deixa uma crítica sobre a importância pela busca do conhecimento e o abandono da posição cômoda gerada pelas aparências e pelas influências ideológicas, muitas desprovidas da verdade e transpassadas pela cegueira intelectual.
Durante a leitura do livro “A República” de Platão notar-se-á a forma metafórica representada pelas correntes que repercutem o sensu comum (pré-conceito) que aprisionam indivíduos com fraqueza cognitiva e os impedem de buscar a cognição verdadeira e permanecem a viver no mundo das sombras e das ilusões.
Nas imagens despertadas pelas sombras a uma simbologia as aparências, de tudo aquilo que é falso ou que são meras imitações da verdade real. É o mundo das simbologias, das aparências nas quais as pessoas se apegam durante a vida.
Minha compreensão que as pessoas que vivem de fantasias e de endeusamento das personalidades, especialmente das políticas, devem confrontar seus próprios hábitos e libertarem-se das correntes que os cercam. Romper com os pré-conceitos é se libertar para a busca do conhecimento.
Para Platão, a luz representa o conhecimento, que pode sim ofuscar aqueles que não estão habituados com seu brilho, o Sol representa a verdade que ilumina toda a nossa existência e proporciona o encontro do conhecimento.
Platão em suas obras faz franca referência ao papel da filosofia. Para ele, o filósofo é aquele consegue sair da caverna, mas por odiar a ignorância, sente compaixão e se vê obrigado a tentar libertar os outros.
Posto essa análise do texto platônico — en passant — deixaremos que o brilho da liberdade elimine os pré-conceitos e ative os homens para existência da razão absoluta.
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José Osmir Bertazzoni, advogado, jornalista.