O aumento do suicídio entre os jovens

Rodolfo Capler

 

Em 1774, o escritor e filósofo alemão Johann Wolfgang von Goethe publicou Os Sofrimentos do Jovem Werther, um romance epistolar de mais ou menos 200 páginas. O livro conta a história de Werter, um rapaz que se apaixona por Charlotte, uma jovem prometida em casamento.  Sofrendo de angústia profunda pelo casamento de Charlotte, Werter dá um tiro na própria cabeça, buscando assim, abreviar seu sofrimento.

Os Sofrimentos do Jovem Werter foi um ícone do Romantismo e tornou-se um sucesso da época, alcançando jovens de toda a Europa. A admiração pela personagem principal foi tamanha, que não era incomum encontrar nas esquinas jovens rapazes vestidos como Werter. Porém, o livro influenciou um surto de suicídios entre adolescentes europeus. Os moços e moças suicidas eram encontrados mortos juntos ao livro. O fenômeno foi batizado de “Efeito Werter” pelo sociólogo estadunidense David P. Phillips em seu eminente artigo The influence of suggestion on suicide: substantive and theoretical implications Of the werther effec. Phillips avaliou o aumento da taxa de suicídios na Grã Bretanha e Estados Unidos, entre os anos 1947 a 1968, após cobertura e divulgação dos casos na mídia. Ele concluiu em seu artigo, que “quanto mais publicidade dedicada a uma história de suicídio, maior o aumento das taxas de suicídios depois disso”.

Com efeito, conforme observou Andrew Solomon, “o suicídio é contagioso”. Por essa razão, muitos jovens após tomarem conhecimento de alguém que tirou a própria vida, se sentem encorajados a agirem por um impulso de imitação. Isso acontece, especialmente quando há o suicídio de alguma celebridade. Em 1986, uma onda de suicídios de adolescentes varreu o Japão, após a morte da cantora pop Yukiko Okada. A jovem cantora que tinha apenas 18 anos se jogou de um prédio, morrendo de forma trágica. Em decorrência do suicídio de Okada, agentes policiais registraram 30 suicídios entre adolescentes no país. De modo parecido, a taxa de suicídios nos Estados Unidos em 1962, subiu 12%, como reflexo da morte da atriz Marilyn Moroe, que tirou a própria vida ingerindo 40 pílulas de um remédio.

Outros suicídios de celebridades também acionaram o Efeito Werter em menor escala, como visto nos casos do baixista Champignon, que se matou em 2013, meses depois do suposto suicídio por overdose de Chorão, seu parceiro de banda, e do vocalista da Banda Linkin Park, Chester Bennington, semanas após o enforcamento do seu amigo Chris Cornell em 2017.

Segundo os estudos sobre suicídio, quanto mais uma pessoa ouve ou lê sobre o tema, maior será a probabilidade dela se matar. Por essa razão a Organização Mundial da Saúde (OMS), orienta os agentes da Mídia a não dar excessiva cobertura em casos de suicídio. Infelizmente, na era digital em que vivemos os jovens tem acesso irrestrito a quaisquer tipos de conteúdos sobre a prática de suicídio. Numa busca simples pelo Google (enquanto escrevia este artigo), sobre “como cometer suicídio?”, encontrei alguns sites com textos e tutoriais ensinando a prática. Ou seja, os jovens estão expostos ao Efeito Werter num único clique.

Essa exposição se soma ao enfrentamento de uma crise de saúde mental sem precedentes entre os jovens. Com o surgimento da pandemia do novo coronavírus, as taxas de ansiedade, depressão e suicídio entre os mais novos, subiram de forma estarrecedora. Segundo a matéria Surge of Student Suicides Pushes Las Vegas Schools to Reopen, publicada em 24 de janeiro de 2021 no The New York Times, num período de 8 meses de pandemia, o condado de Clark, em Nevada, recebeu mais de 3.100 alertas de alunos que relataram pensamentos suicidas, possíveis lesões autoprovocadas (self-cutting), ou gritos de socorro. Só no mês de dezembro 18 estudantes haviam cometido suicídio, o que é o dobro do número de alunos que tiraram a própria vida no condado em todo o ano de 2019.

Os membros da nova geração estão cada vez mais propensos a tirar a própria vida; com medo de viver, estão optando pela morte todos os dias. Segundo o Fatal Injury Reports houve um registro do aumento de 46% por cento a mais de suicídios de jovens de 15 a 19 anos só no ano de 2015.

Visto que suicídios só podem ser impedidos pela prevenção e interrupção dos meios de suicídio, cabe aos pais, educadores, líderes religiosos e empregadores, a responsabilidade de olhar com mais seriedade para os sinais de alerta emitidos pelos mais jovens; eles estão clamando por socorro. Precisamos jogar o bote salva-vidas para os nossos filhos, alunos e amigos, discutindo o tema da saúde mental de todas as formas possíveis e em todas as circunstâncias.

Lares, escolas, empresas e igrejas precisam criar campanhas de prevenção às doenças mentais, incluindo a participação de profissionais da área da saúde mental em bate-papos informais e a disseminação de materiais audiovisuais que fornecem informações sobre o tema.  Essa é uma necessidade urgente, pois uma simples conversa com informação pode salvar muitas vidas.

______

Rodolfo Capler, pesquisador, teólogo e escritor, autor do livro (no prelo) “Geração Selfie”; e-mail: [email protected]/Instagram: @rodolfocapler

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima