OMS cria terapeuta virtual para combater o tabagismo

A cardiologista Juliana Previtalli, coordenadora da campanha Paradas Pro Sucesso – Foto: Paulo Gomes

Parar de fumar sempre foi desafiador e, agora, pode ser especialmente mais difícil em decorrência do estresse social e econômico adicional resultante da pandemia de Covid-19. “Por outro lado, a pandemia também pode oferecer o incentivo certo para quem quer abandonar o vício”, considera a cardiologista Juliana Previtalli, do Emcor (Serviço de Emergências do Coração) da Santa Casa de Piracicaba.

Coordenadora da campanha “Paradas Pro Sucesso”, que completa um ano de atividades voltadas à conscientização sobre os malefícios do tabaco, ela revela que cerca de 780 milhões de pessoas no mundo afirmam querer parar de fumar, mas apenas 30% delas têm acesso às ferramentas que podem ajudá-las a obter sucesso nessa caminhada.

Juliana lembra que, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), os fumantes têm maior risco de desenvolver doenças graves e morte por Covid-19. Ela considera ainda que o tabaco também é um importante fator de risco para doenças crônicas não transmissíveis, como doenças cardiovasculares, câncer, doenças respiratórias e diabetes.

A boa notícia, porém, é que este ano a OMS apoiará pelo menos 100 milhões de pessoas a parar de fumar por meio de comunidades digitais e diversas ferramentas à disposição do fumante. “O desafio já foi lançado e terá duração de um ano, período em que serão divulgadas 101 razões para deixar de fumar”, informa a cardiologista lembrando que, assim, os tabagistas poderão encontrar o apoio social de que precisam para abandonar o vício.

A campanha, intitulada “Comprometa-se a parar de fumar durante a Covid-19”, quer ajudar a criar ambientes mais saudáveis que conduzam ao abandono do tabaco por meio de políticas fortes para a cessação do tabagismo; aumento do acesso aos serviços de cessação; aumento da conscientização sobre as táticas da indústria do tabaco e capacitação dos usuários de tabaco a parar de fumar por meio de iniciativas “Quit & Win” (Desista e Ganhe).

Entre as ferramentas globais e regionais, encontra-se a terapeuta Florence, a primeira profissional de saúde digital instituída pela OMS para incentivar o abandono do cigarro. Criada a partir da inteligência artificial, Florence é capaz de interagir, se expressar e aprender de acordo com os padrões humanos para orientar sobre a combinação perigosa do tabaco com a Covid-19 e desenvolver planos personalizados para que fumantes larguem o vício. “Por enquanto, essa ferramenta foi lançada apenas no idioma Inglês para simular uma consulta online e gratuita por meio de câmera e microfone do computador para reconhecer pacientes, interpretá-los por meio do tom de voz e expressões faciais e, em seguida, responder suas dúvidas”, explica Juliana.

Ela revela que, em reforço à campanha da OMS no Brasil, a Opas (Organização Pan-Americana da Saúde) juntamente com o Inca (Instituto Nacional do Câncer) disponibilizará à população um conjunto de materiais, como cards para internet, vídeos e cartazes de esclarecimento e de orientação sobre os malefícios do tabaco. Os materiais trazem como mote ‘Parar de fumar é uma vitória’ e alerta para as diferentes formas que o tabaco se apresenta para crianças, como fumantes passivas, jovens e adultos. A campanha também irá disponibilizar aos profissionais de saúde uma cartilha para auxiliá-los sobre como fazer de forma simples, em seu dia a dia, a abordagem mínima ao fumante.

Para ela, a iniciativa se configura em estratégia de mobilização, motivação, sensibilização e encorajamento para que os tabagistas parem de fumar, pois o tabagismo é o único fator de risco totalmente evitável e responsável por mortes, doenças e alto custo ao sistema de saúde. “O percentual de adultos fumantes no Brasil, com 18 anos ou mais, vem apresentando uma expressiva queda nas últimas décadas, mas continua alto, atingindo 9,8% da população”, considera a cardiologista.

Segundo ela, a redução de fumantes pode ser bem mais expressiva se o País investir ainda mais em políticas tributárias e regulamentadoras junto à indústria fumagueira, restrição de publicidade e adoção de ambientes fechados livres de tabaco, associadas a ações de promoção e prevenção pelos serviços de saúde e oferta de tratamento para auxilio na cessação do tabagismo.

Juliana revela que o tratamento contra o tabagismo consiste de abordagem cognitiva comportamental associada ou não a medicações, dependendo da avaliação do grau de dependência física ou psicológica ao cigarro. “Assim que suspendem o uso de cigarro, as pessoas rapidamente percebem melhora em sua condição de saúde e, já nos primeiros dias e semanas, é possível observar melhora na capacidade respiratória, na resistência aos esforços e na sensação dos odores e sabores”, informou a cardiologista.

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