Jesus ou Barrabás?

                Alvaro Vargas

 

De acordo com os Evangelhos, durante o julgamento de Jesus, Pilatos ofereceu ao povo a opção de escolherem entre o inocente profeta nazareno, e Barrabás, conhecido criminoso e assassino. Nessa decisão, um seria libertado, e o outro destinado ao martírio cruel da crucificação. Causa perplexidade que a escolha para a morte impiedosa tenha sido Jesus. No domingo daquela mesma semana, ele fora aclamado pelo povoquando entrara na capital do judaísmo. Agora, poucos dias depois, a mesma massa popular que o havia ovacionado, pedia ao governador o seu sacrifício, com o agravante de poder libertá-lo.

Nos diz o espírito Emmanuel (A Caminho da Luz, Chico Xavier), que a encarnação de Jesus na Terra foi tão importante quanto a construção de nosso planeta. O Mestre Nazareno faz parte de uma comunidade de seres angelicais, que apenas se reuniram aqui por duas vezes. A primeira, ainda na formação de nosso orbe, e posteriormente, na organização do nascimento de Jesus. O povo hebreu havia sido preparado para a vinda do Messias. Com Moisés, que proporcionou decálogo, e posteriormente,os ensinamentos dos profetas. Segundo estudiososexistem no Velho Testamento mais de 300 profecias específicas, detalhando a vinda de Jesus. Além das profecias sobre o seu nascimento em Belém, foram igualmente bem documentadas nas Sagradas Escrituras, a vida sem máculas de Jesus, a sua obra expiatória, a sua morte e “ressurreição”.

O Mestre concluiu com êxito a sua missão, legando-nos a Boa-Nova, código de amor para uma existência feliz. Deixou-nos, também, mais uma grande lição sobre o paradoxo humano. A superficialidade de nossos valores morais. A hipocrisia que ainda persiste no comportamento humano foi revelada naquela semana em que ocorreu o seu martírio. Foi aclamado ao entrar em Jerusalém edepois ser vilipendiado, preterido por um criminoso de alta periculosidade. Toda a nossa inferioridade moral foi desnudada. Essa tragédia marcou a humanidade através dos séculos expiatórios que se seguiram. Mesmo Barrabás, resignado com a sua condenação, ficou perplexo ao ser absolvido pelo povo. Acompanhou a “Via Crúcis” do profeta Nazareno, sem compreender as razões que levaram à sua libertação.

Segundo o espírito Maria Dolores (Somente amor, cap. 20, Chico Xavier), ao ver o corpo vergado do Mestre na cruz, recebeudele uma gota de sangue, trazida pelo vento, que caiu sobre o seu ferimento na cabeça, curando-o. Intrigado, se questionou qualas razões para essa cura e pelos acontecimentos tão trágicos. Ele, um criminoso contumaz,livre, e Jesus, martirizado. Seria ele maior que o profeta nazareno? Por compaixão, um anjo que velava o Mestre aos pés da cruz, materializou-se na forma humana, repreendendo-o. Esclareceu com bondade que entre aexistência dele e a do Senhor, a diferença era ilimitada. Enquanto Jesus atendia ao chamado do Pai e se elevava em liberdade plena, resplandecente, Barrabás continuaria cativo as correntes das trevas que havia construído na estrada humana. Não merecera morrer naquele momento, e deveria seguir à procura da própria redenção, resgatando os seus débitos morais.

Somos espíritos eternos, criados simples e ignorantes, com o objetivo se nos tornarmos espíritos puros através das reencarnações. Para isso, temos toda a eternidade. Jesus, nosso irmão maior, além dos seus ensinamentos, nos legou a maior prova de amor que pode existir. Dar a vida pelos amigos, ou seja, toda a humanidade. A sua crucificação, após ter sido aclamado na mesma cidade que o martirizou, preterindo-o a um marginal, ficaria para sempre na nossa memória, como mais um alerta sobre as nossas fraquezas morais. O Mestre Nazareno compreendia a inferioridade espiritual da nossa sociedade e sabia que seria martirizado. Mas, demonstrou, através do seu testemunho, o caminho a ser percorrido por todos aqueles que aspiram se libertar de suas mazelas morais: “Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome diariamente a sua cruz e siga-me” (Lucas, 9:23).

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Alvaro Vargas, Eng. Agrônomo-Ph.D., presidente da USE-Piracicaba, palestrante e radialista espírita

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