Machistas não passarão!

Rai de Almeida

 

Doze homens impediram na noite da última segunda-feira, 15, que uma audiência pública – proposta por quatro mulheres – para se discutir questões de políticas públicas para as mulheres possa acontecer na Câmara de Vereadores de Piracicaba, no mês de março. Sim, caras leitoras e caros leitores. Doze homens, vereadores eleitos para representarem e serem a voz do povo, votaram contra um simples requerimento apresentado à Câmara por quatro mulheres vereadoras, que solicitávamos a aprovação dessa Casa de Leis para – notem bem, nunca é demais repetir – justamente darmos voz às mulheres da cidade num encontro oficial cujo único objetivo era o de discutir questões ligadas à vida da mulher.

A saber, nesse requerimento mencionamos a nova gestão municipal e a necessidade de se discutir e se implementar políticas públicas voltada às mulheres em uma perspectiva de reparar as desigualdades de gênero, raça e etnia que assegurem a igualdade para elas na esfera municipal. Como justificativa, chamamos a atenção nesse requerimento que as mulheres são mais de 50% da população de Piracicaba, mas que a cultura machista está presente e é significativa e se utiliza de meios atrozes e ardilosos, com matizes de violência, com o objetivo explícito, ou não, de subjugar as mulheres. No entanto, e paradoxalmente concretizando o machismo que o requerimento aponta, doze homens (repita-se!), doze vereadores votaram contra esse requerimento e nos impediram (temporariamente) de aprová-lo.

A audiência proposta, vale dizer, tinha como objetivo discutir a questão com um conjunto de representações de instituições e movimentos sociais que tem um papel preponderante nas ações e debates em relação às mulheres. Estariam também convidados o Prefeito de Piracicaba, Luciano Almeida (DEM), e ainda a deputada estadual Professora Bebel (PT) – além de todas as cidadãs e cidadãos piracicabanos. Nesse sentido, tratava-se de um requerimento para uma audiência suprapartidária e de suma importância para as mulheres e para a nossa sociedade – fazendo ainda tal audiência, como dissemos, parte da programação que a Procuradoria da Mulher da Câmara dos Vereadores está propondo como evento de abertura para a Semana da Mulher.

Num país em que uma mulher é morta a cada sete horas, num país que ocupa o quinto lugar no ranking mundial do feminicídio, em que uma mulher sofre violência doméstica a cada dois minutos, num país que bate ano a ano o recorde de registros de estupros e no qual uma menina de até treze anos é estuprada a cada quinze minutos – sem contar as questões do assédio moral, de assédio sexual, de diferenciação salarial e de oportunidades de trabalho que acometem as mulheres cotidianamente – é deplorável e muito triste ver doze homens eleitos (inclusive por mulheres) negando a possibilidade de que quatro mulheres também eleitas possam propor uma audiência pública justamente paratratar dessas questões.

Diante de tal fato, entendemos que ele só reforça e demonstra a necessidade de se fazer esse debate com a sociedade. Vetar um requerimento alegando que as mulheres “não precisam disso” ou porque tal documento cita o termo “gênero” é de um desconhecimento e de um preconceito colossal. É preciso enfrentar tal visão machista, patriarcal e homofóbica para que nós mudemos a realidade de nossa cidade e de nosso país. É preciso darmos um basta e mostrarmos a nossa força. Não podem mais os homens decidirem por nós, não podem mais os homens imporem sobre nós, mulheres, o seu ímpeto dominador e persecutório. Basta! Juntas somos mais fortes e não desistiremos jamais!

Por isso, saibam: reapresentaremos nosso requerimento e contamos com a participação popular ao nosso lado para que possamos impedir – juntas – que o patriarcado machista iniba, constranja ou ainda inviabilize a força da mulher nesta gestão que se inicia na Câmara de Vereadores de Piracicaba. É hora de construirmos juntas uma nova realidade em nossa cidade – uma realidade mais humana, mais equânime e mais justa para todos e todas.

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Rai de Almeida, advogada, vereadora pelo Partido dos Trabalhadores (PT) em Piracicaba

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