O que dirão de nós?

Tarciso de Assis Jacintho

 

“O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para pregar boas novas aos pobres. Ele me enviou para proclamar liberdade aos presos e recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos e proclamar o ano da graça do Senhor”. (Jesus em Nazaré, hoje maior cidade do distrito Norte de Israel aproximadamente entre 27 e 36 d.C.)

Esta afirmação se encontra no relato minucioso de Lucas, algo entre 60 e 80 d.C. Lucas era médico e foi também autor dos Atos dos Apóstolos. Ela marca o início do Ministério de Jesus entre nós que culminou em sua Morte e Ressurreição. Sua morte que tem um caráter redentor, uma vez que através deste ato, Cristo pagou o preço por nossos pecados e nos liberta do seu jugo.  A Ressurreição de Cristo por sua vez tem um caráter central na fé Cristã. Se Cristo não ressuscitou é vã a nossa pregação e vossa fé, afirma o Apóstolo Paulo.

Na ressureição de Cristo temos a esperança de que a morte não é o fim e que ressuscitaremos com ele para uma vida eterna. Esses são os conceitos básicos do Evangelho, A Boa Nova em Cristo Jesus. Nisso, quase todos nós cristãos não temos divergência.

Reflitamos a quem se dirigiu essa Boa Nova. Pobres, presos e cegos pela opressão. Um breve olhar ao relato neotestamentário nos mostra que o Jesus histórico cumpriu cabalmente seu Ministério. A quem se dirige essa Boa Nova hoje?

Há menos de um mês, um menino de 11 anos foi encontrado preso em um barril, segundo a Promotoria de Justiça de Campinas. O resultado do exame de corpo de delito, que apontou lesões causadas pelo tempo que permaneceu no barril, motivou a denúncia dos três envolvidos no caso. O barril onde o garoto estava tinha correntes e cadeado, o que indica que o local foi montado para servir de cativeiro. Ele estava preso lá pelo menos desde o começo do ano. O menino contou à equipe médica do Hospital Ouro Verde que viu o Revéillon preso no tonel. Ele era alimentado com cascas de banana e fubá cru, segundo levantamento da Polícia Militar e Polícia Civil, enquanto a casa tinha fartura de alimentação, indicou laudo da perícia. O MP também pede para que o pai da criança seja denunciado por abandono intelectual. “O pai do menino não matriculou nem manteve o filho na escola no ano letivo de 2020″, afirma o MP, em nota. O garoto segue em um abrigo aguardando decisão judicial que vai definir o futuro dele.

Essa criança, mesmo sendo objeto de todo o cuidado que está recebendo, em virtude da consternação que o caso ganhou, poderá transgredir no futuro. E não estamos afirmando que isso certamente ocorrerá. Porém, estudos comprovam largamente que uma das principais causas da violência cometida por adultos tem origem pelo abandono na infância e em uma adolescência vivenciada entre pares violentos. Ela precisa urgentemente da Boa Nova.

“Eu prefiro um presídio cheio de vagabundos a um cemitério cheio de inocentes. É só você não estuprar, não sequestrar, não praticar latrocínio que tu não vai pra lá! vai dar vida boa para aqueles canalhas?” Para mim, presídio é igual coração de mãe, sempre cabe mais um! “A “criança” de 16, 17 anos, já comete todo tipo de crime, rouba, mata, estupra, etc, aí dizem que ele não pode ir para a cadeia se não vai ficar pior. Direitos Humanos para Humanos Direitos”.

As afirmações acima são de alguém que se define como honesto, patriota e que tem Deus no coração e eu não posso concordar com elas, não porque discorde de outras tantas posturas do autor, mas por ser Cristão.  Se aquele menino transgredir, como é a realidade de tantos, ele deve ser punido no rigor da lei pelos seus atos, mas ele é de fato culpado? Ou é vítima de uma estrutura social viciada? E levando ao paroxismo ele pode transgredir contra mim e você. E se isso vier a acontecer tenho eu como cristão, pedir misericórdia ao Cristo para que ele me ensine a perdoar como ele na cruz perdoou. Como cristão penso que tenho que ser a favor da pregação do Evangelho nas cadeias e não da pena de morte, tenho que olhar para o outro como alguém que precisa da boa nova da salvação e não do descaso do Estado. Tenho que olhar para os pobres e cegos pela opressão, assim como Cristo olhou.

 

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David Livingstone nasceu na Escócia, em 1813. Em sua mocidade, ele decidiu a propagar o cristianismo na África e tornou-se o maior missionário que aquele continente já conheceu. Percorreu todo o interior da África, onde perdeu sua própria esposa, vitimada por uma febre fatal. Mesmo assim, continuou sua missão de pregar o amor de Cristo.

Estava muito próximo de realizar um de seus sonhos, que era encontrar a nascente do rio Nilo, quando faleceu. Seus companheiros de peregrinação o encontraram de joelhos ao lado da cama; no momento de sua partida, estivera conversando com Deus, de quem sempre falava aos nativos. Anos mais tarde, outros missionários resolveram retomar os caminhos de Livingstone na África. Quando começaram a falar de Cristo e de seu amor, ficaram surpresos ao ouvir dos nativos:

“Nós já conhecemos esse homem! Ele viveu aqui conosco.!” “Não é bem isso”, disse o missionário. Estamos falando de Jesus Cristo, que viveu há quase dois mil anos” — explicaram os missionários ingleses. “O homem que você falou esteve por aqui também” — responderam os africanos.

Destes dias tenebrosos, o que dirão de nós?

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Tarciso de Assis Jacintho, administrador, coordenador Administrativo-Financeiro da APFP (Associação Presbiteriana de Filantropia de Piracicaba)

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