Plinio Montagner
Se você fizer uma lista dos sentimentos mais nobres, com certeza a bondade e o amor estarão entre os primeiros. O amor é coisa que se sente. É involuntário. Ninguém diz: hoje eu vou sair de casa para achar o amor de minha vida. Amor não se compra, não se procura, não é ação. Acontece.
A bondade sim, embora seja um dom, ela se expressa principalmente por atos premeditados. É um comportamento mecânico que pode ser aprendido. Existem vários tipos de bondade: a natural e espontânea, a aprendida, a praticada por delicadeza, a que visa recompensa, e outros.
Bondade verdadeira não é interesseira; é a que segue o ditado: “Fazer o bem sem saber ou olhar a quem”. É ajuda que gera crédito que jamais será pago.
Porém a bondade, quando sem limites, pode custar caro e produzir efeitos danosos a quem dá e a quem recebe.
Um exemplo provém de pessoas que não trabalham e ficam esperando que os outros trabalhem por elas. É o caso em que o favor se torna um estimulo ao favorecido a não sair de sua zona de conforto e a se tornar eterno dependente. Há pessoas preferem não ser ajudadas. Com certeza é porque seus pais cumpriram seu dever de educá-las bem, com amor e com disciplina.
Os exageros da bondade podem enfraquecer afetos e macular o caráter do protegido. Além disso, o benfeitor se desvaloriza e sua generosidade passa a ser uma obrigação.
Estar junto e agradar não são comportamentos imprescindíveis à harmonia de uma relação. A ausência faz bem a uma relação porque desperta o sentimento de falta do outro. Tudo que existe em abundância tem o valor diminuído e a importância desprezada. Não é assim? Não dar tanto é prudência. O amor também precisa de moderação,
O lar é uma instituição, uma sociedade em miniatura, há chefes, subordinados, deveres, direitos, regras e punições. Mas se faltam bons exemplos e estímulos à concepção do saber e da civilidade, é o pior lugar para os filhos aprenderem respeitar as autoridades e as normas da coletividade.
Ditado sábio: Vasos bons e bonitos são feitos enquanto o barro está mole. Educar bem os filhos é investimento, são bens que vêm acompanhados de boleto de contas a pagar por toda a vida. Isto deveria bastar aos pais entenderem que eles detêm o título de comandantes do barco, e assim, a obrigação de navegar com firmeza e fazer valer o direito instituído de ensinar e pôr sua casa ordem.
A punição e o bolso atingidos são os meios mais eficazes e imediatos para evitar os açoites da vida e danos à sociedade. Mas não existe sociedade perfeita porque não há ser humano perfeito. Regras e penalidades são necessárias.
Há momentos que devemos parar para refletir quando ser bom é bom e quando não ser também é. Se, ser bom é preciso, então que seja com contenção para não criar eternos dependentes da ajuda alheia.
Lembrando o verso de Gilberto Gil: “Preciso apender a vencer o vicio de querer ser sempre bom”. E do escritor Rubem Alves: “Ostra que não sofre não faz pérola”.
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Plinio Montagner, professor aposentado