Melhor concordar do que ter razão: o valor da paz nas relações e na vida pessoal

Douglas Alberto Ferraz de Campos Filho

 

 

A frase popular “melhor concordar do que ter razão”, ou sua variação “melhor ter paz do que ter razão”, carrega consigo um conceito profundo sobre a importância da harmonia emocional e da saúde mental. A premissa sugere que, em muitas situações, preservar a tranquilidade e evitar o conflito é mais valioso do que a necessidade de estar “certo” ou de insistir em provar um ponto, especialmente em discussões que envolvem questões pessoais e emocionais. Este princípio, que remonta a uma sabedoria popular muitas vezes associada à maturidade emocional, tem ganhado força no campo da psicologia, da filosofia e das dinâmicas de relacionamento.

  • O conflito e suas consequências

O ser humano, por natureza, busca a validação e o reconhecimento de suas opiniões e crenças. No entanto, insistir constantemente em estar certo pode ser uma fonte constante de desgaste e frustração, tanto para o indivíduo quanto para aqueles ao seu redor. Quando o foco de uma conversa se desloca para a prova de quem está correto, o que se perde é a possibilidade de alcançar um entendimento mútuo e uma verdadeira conexão.

A psicóloga e pesquisadora Martha Beck discute, em seus estudos sobre a comunicação interpessoal, que a tendência de buscar a vitória em uma discussão pode resultar em “batalhas de egos”, que frequentemente não são produtivas e podem prejudicar as relações. Quando nos apegamos rigidamente à ideia de estar “certos”, podemos nos tornar menos flexíveis e menos capazes de encontrar soluções pacíficas para problemas que exigem colaboração.

  • Maturidade emocional e inteligência relacional

A ideia central de que “melhor concordar do que ter razão” remonta à noção de *maturidade emocional*. Em suas reflexões, o filósofo Clóvis de Barros Filho sugere que, quando enfrentamos discussões sobre valores pessoais ou crenças profundas, podemos adotar uma abordagem de respeito às diferenças, focando nas semelhanças e no que nos une, em vez de tentar afirmar nossa superioridade em argumentos que apenas ampliam as divisões.

Em muitas situações, a paciência e a habilidade de ceder não significam fraqueza, mas sim inteligência emocional. Segundo João Kepler, especialista em psicologia e coach de relacionamento, quando nos deparamos com pessoas autoritárias ou prepotentes, o esforço para “vencer” uma discussão pode se tornar desgastante e improdutivo. Em vez disso, optar por ceder, ou até mesmo silenciar-se, pode ser uma forma de preservar a saúde emocional e reduzir o impacto de um confronto desnecessário.

  • Aplicando o conceito no cotidiano
  1. Discussões inúteis: Quando um debate se torna repetitivo e não leva a uma solução construtiva, a melhor opção pode ser o silêncio ou, quando possível, a concordância. Evitar debates intermináveis sobre pontos triviais preserva a energia e a saúde mental.
  2. Conflitos interpessoais: Nos relacionamentos pessoais, o desejo de “estar certo” muitas vezes causa mais dor do que benefícios reais. Ceder em alguns momentos pode ser uma forma de demonstrar amor, compreensão e maturidade, como destacam os estudos de psicologia relacional de John Gottman, que enfatizam a importância de evitar a escalada de conflitos para manter a harmonia nas relações.
  3. Questões de valor: Quando se trata de questões de valores pessoais ou crenças profundas, é comum que as discussões se tornem intensas e difíceis. Nesse caso, a sabedoria está em reconhecer que a busca pela razão não traz resultados satisfatórios. Ao aceitar as diferenças, o foco passa a ser a convivência pacífica, o que é essencial para o bem-estar coletivo, como apontam filósofos contemporâneos sobre ética e convivência.
  4. 4. Convivência com pessoas autoritárias: Lidar com figuras autoritárias ou prepotentes exige discernimento. Não entrar em uma batalha constante para “provar seu ponto” pode ser a chave para manter a paz, conforme sugerido por João Kepler em suas publicações sobre gestão de conflitos.
  • O impacto na saúde psicológica e física

Numerosos estudos demonstram que o estresse causado por conflitos prolongados tem efeitos diretos sobre a saúde física e psicológica. A insistência em ter razão pode gerar uma constante resposta de “luta ou fuga” no corpo, aumentando os níveis de cortisol e prejudicando o sistema imunológico. Em contrapartida, adotar uma postura mais flexível e focada na paz e no bem-estar traz benefícios a longo prazo, como menor nível de estresse, maior satisfação nas relações e até mesmo melhor saúde cardiovascular.

Em um estudo realizado pela American Psychological Association (APA), foi demonstrado que a busca incessante por ter razão em uma discussão é uma das principais fontes de tensão e desconforto emocional. As pessoas que conseguem “perder” uma discussão com mais facilidade experimentam menores níveis de estresse e têm mais satisfação com suas relações pessoais.

  • Conclusão

A busca pela razão, embora compreensível, pode ser um obstáculo para a construção de uma vida mais pacífica e equilibrada. A flexibilidade, o respeito pelas diferenças e a capacidade de ceder são ferramentas poderosas para manter a saúde mental, a harmonia nos relacionamentos e o bem-estar geral. Como aponta a sabedoria popular e confirmam os estudos acadêmicos e psicológicos, em muitas situações, realmente “é melhor concordar do que ter razão”. Afinal, a paz interior e a qualidade das relações valem muito mais do que a vitória em um debate momentâneo.

Portanto, em um mundo cada vez mais polarizado, a escolha pela paz, pela convivência respeitosa e pela inteligência emocional não só melhora nossa saúde psicológica, mas também abre caminho para um convívio mais harmonioso e produtivo com os outros.

Só para finalizar…

Fica a reflexão do dia: viver o presente, aceitar os ciclos da vida e cultivar o autocuidado e a gratidão. Cada novo amanhecer é uma chance de recomeçar, e a sabedoria está em valorizar as pequenas coisas e as pessoas que nos cercam.

Lembre-se de que nem sempre tudo sairá como planejado, mas é fundamental aprender com os erros e seguir em frente, abraçando a jornada com a confiança de que é possível encontrar a felicidade na simplicidade. E nunca se esqueça desta frase de Lacan: Pobre da pessoa que desconfia do elogio e acredita no insulto”.

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Douglas Alberto Ferraz de Campos Filho, médico piracicabano

 

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