
Solenidade reuniu autoridades, homenageadas e especialistas para discutir políticas públicas para mulheres
A Câmara Municipal de Piracicaba realizou, na noite desta quarta-feira (19), no Salão Nobre Helly de Campos Melges, reunião solene de abertura dos 21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência Contra as Mulheres. A cerimônia, instituída pelo Decreto Legislativo nº 14/2017, ocorreu conforme o requerimento n° 1224/2025, por iniciativa das vereadoras Rai de Almeida (PT) e Silvia Morales (PV) do mandato coletivo A Cidade é sua, que integram a Procuradoria Especial da Mulher na Câmara.
A mesa de honra da solenidade foi composta pela vereadora Rai de Almeida, presidente dos trabalhos; pela vereadora Silvia Morales; pela coordenadora da Patrulha Maria da Penha, Ana Paula Rocha Bigelli; pela presidente do Conselho da Mulher de Piracicaba, Simone Seghese; pela coordenadora do Centro de Referência de Atendimento à Mulher, Fabiana Menegon; e pela ex-vereadora Nancy Thame, que criou a Procuradoria Especial da Mulher.
Durante a solenidade, Nancy Thame destacou que, quando esteve no mandato, buscou observar o calendário da ONU para trazer ao município pautas relevantes sobre políticas públicas voltadas às mulheres. Segundo ela, esse cuidado fortaleceu o trabalho coletivo e representou “uma mulher levando a outra para frente”.
Silvia Morales afirmou que os dados sobre violência de gênero são alarmantes e que casos de feminicídio têm se tornado recorrentes no noticiário, configurando violação aos direitos humanos. Ela lembrou que o período entre 20 de novembro e 10 de dezembro simboliza o ciclo internacional de enfrentamento às violências contra as mulheres e ressaltou que não há democracia plena enquanto mulheres seguem sofrendo violência. Silvia também mencionou que apenas cerca de 20% dos cargos políticos são ocupados por mulheres e relatou o apoio que recebeu da vereadora Rai de Almeida quando enfrentou uma situação de violência doméstica, reforçando a importância de ações que deem visibilidade ao tema.
A solenidade contou com a palestra “Cuidar de quem cuida”, ministrada por Natália Alleoni, que convidou o público a refletir sobre vivências de violência e o que chamou de “violência invisível”, manifestada nas pequenas interrupções e invasões do cotidiano das mulheres.
Rai de Almeida agradeceu às mulheres envolvidas na organização da solenidade e refletiu sobre a dificuldade de ser mulher em espaços públicos majoritariamente masculinos. Ela destacou o enfrentamento cotidiano da violência política de gênero e lembrou que as mulheres negras e periféricas seguem como as mais atingidas pela violência, o que evidencia a estrutura racial que marca a sociedade. Rai reforçou ainda que os 21 Dias de Ativismo têm início no Dia da Consciência Negra e terminam no Dia Internacional dos Direitos Humanos, o que evidencia a conexão histórica entre raça, gênero e direitos fundamentais.
A solenidade contou com homenagens a mulheres que se destacam em diferentes áreas de atuação. Alicia Fernanda do Nascimento foi reconhecida pelo trabalho desenvolvido na Casa Dia e no Centro de Referência de Atendimento à Mulher. A líder comunitária Elisama Cilene Cordeiro Vieira recebeu homenagem por seu apoio a mulheres em situação de vulnerabilidade nos bairros da região norte. Também foi homenageada Fabiana Menegon de Campos, ex-presidente do Conselho Municipal da Mulher.
Graziela Brizola foi reconhecida por sua atuação, por mais de 10 anos, no desenvolvimento emocional e comportamental de mulheres. Foi homenageada também Luciane Miranda Guerra, dentista, feminista e professora, que desenvolve pesquisas sobre o atendimento a vítimas de violência doméstica, populações vulnerabilizadas e sobre racismo estrutural. E ainda Maria Conceição Moreira, conhecida como Tatá, ativista atuante em entidades voltadas aos direitos das mulheres, da infância e do meio ambiente.
Luciane Miranda Guerra, em nome das homenageadas, agradeceu “às ancestrais que lutaram antes para que as mulheres chegassem até aqui”. Ela ressaltou que, embora a presença feminina ainda seja reduzida na política, as mulheres representam “uma minoria que faz barulho”. “A forma de resistência trouxe momentos sombrios que se manifestam através das leis no Congresso, e sua flexibilidade, onde dados mostram que quatro mulheres morrem diariamente apenas por serem mulheres, o que mostra que a luta está apenas começando”, afirmou.
Luciane reforçou ainda a importância da articulação coletiva. “É no encontro das pautas, que nos fortalecemos, que, cada uma fazendo seu papel, podemos conseguir ao menos resgatar uma dessas mulheres que estão vivendo violência, que muitas vezes não veem que estão passando por isso”, colocou. “Conseguindo fazer isso, o trabalho está feito”.