
Em 16 de novembro de 1889, Prudente de Moraes era nomeado na junta governativa de São Paulo e se projetava como figura de destaque nacional do então novo regime
“Cidadãos!
Revive a Nação! Pelo seu órgão o mais autorizado – o povo! Foi proclamada a República no país!
Já anunciada pelas manifestações da opinião pública, profundamente radicada na consciência nacional, aparece agora como um fato consumado!
Sob a bandeira da República desapareceram os velhos partidos e unem-se todos os brasileiros para a felicidade da Pátria.
Chegou o período da organização, e é preciso que todos os homens de boa vontade se congreguem para salvar a pátria do perigo que ia correndo. A generosidade do povo brasileiro, o seu amor à ordem, o seu espírito de paz, garantem desde já a mais completa tranquilidade no novo regime de paz, de justiça e de concórdia!
O povo, no exercício da sua soberania, aclamou o governo provisório, que se esforçará para manter firme esse regime. Sem ódios, sem velhos ressentimentos, distribuirá justiça, levará a todos os pontos da província o sentimento que domina a Nação neste novo período que se lhe abre, cheio de esperanças que se hão de tornar uma realidade, afirmando a grandeza, o progresso e a civilização da Pátria.
Unamo-nos, cidadãos! e prestemos culto à Liberdade, à Justiça, à Igualdade e à Fraternidade, que devem preencher os membros de uma grande Nação.
Viva a Nação Brasileira!
Viva a República!
Viva o Exército!
Viva a Armada!
Viva a Província de São Paulo!
Rangel Pestana | Prudente de Moraes
*Coronel Mursa não assina por estar ausente.”
O texto acima foi publicado no jornal “Diário Popular”, edição do sábado, 16 de novembro de 1889. A exaltação à República, um dia depois de sua proclamação, foi escrita por Prudente de Moraes, Rangel Pestana e Joaquim de Sousa Mursa, num momento de entusiasmo com o novo regime que ora se instalava no país.
Os três – Moraes, Pestana e Mursa – compuseram, de forma imediata ao novo momento político, uma junta governativa para a administração da província (atual Estado) de São Paulo. De forma provisória, São Paulo teria esses três como governadores.
Nesse mesmo 16 de novembro, o triunvirato enviou um telegrama à Câmara Municipal de Piracicaba – Casa e cidade em que Prudente iniciou sua vida política –, comunicando que estavam assumindo o governo provisório do estado de São Paulo.
A existência desse telegrama no Acervo Histórico da Câmara é abordada no texto “Um telegrama histórico”, escrito pelo professor Guilherme Vitti e que é tema desta edição dá série “Achados do Arquivo – Memórias de Um Arquivo”, em que transcrevemos, na íntegra, o artigo de Vitti.
Assim escreveu o professor:
“Um telegrama histórico
Todo cidadão que tenha frequentado, por tempo razoável, uma escola primária, através da história-pátria tomou conhecimento da existência de um vulto de relevo na história do país, chamado Prudente de Moraes, cujo nome completo é Dr. Prudente José de Moraes Barros.
Os mais interessados no conhecimento da história lembram, também, que o cidadão em referência foi o 1º presidente civil da República, isto é, o primeiro presidente não pertencente à classe militar.
Os mais aprofundados no estudo da biografia do ilustre personagem ficam sabendo que ele natural de Itu, tendo, porém, vivido e exercido suas atividades profissionais e políticas na cidade de Piracicaba, onde veio a falecer em 1902.
Eleito jovem para o cargo de vereador, de imediato ocupou a Presidência da Câmara Municipal, exercendo a função com sabedoria e tino, razão por que sua fama passou além do simples burgo, que era, então, Piracicaba.
Adepto fervoroso do ideal republicano, logo tornou-se um dos cabeças do movimento, tanto é que, quando da proclamação da República, foi sua pessoa imediatamente escolhida para participar do primeiro governo provisório da província do estado de São Paulo, tendo como companheiros a Rangel Pestana e o coronel Mursa.
A Câmara Municipal de Piracicaba foi cientificada do evento por meio de um telegrama, cujo teor e cópia abaixo vão reproduzidos:
‘Companhia Ituana
Telegrama Despachado
Prefixo P n. 438
Nº de palavras 10
Recebido às 7,20
Por João de Mello
De ordem do Governo Provisório ao Presidente da Câmara Municipal de Piracicaba.
Foi hoje empossado o Governo provisório do Estado de São Paulo, composto dos Srs.: Prudente de Moraes, Rangel Pestana e coronel Mursa – já entraram em Palácio e estão dirigindo o expediente.
Faça público perfeita ordem e paz.
Agência-Cidade 16-11-89’.”
A junta governativa existiu até 14 de dezembro daquele ano, momento no qual Prudente é nomeado governador, cargo que ocuparia até outubro de 1890.
Depois, atuou como senador e, entre 1894 e 1898, foi presidente da República, tendo sido o primeiro civil a ocupar o cargo mais importante da nação.
O texto do professor Guilherme aborda um documento simples, curto, mas que carrega uma dimensão histórica imensa. É um breve telegrama que guarda em si o retrato de um amplo e profundo legado de uma das personalidades mais importantes do início da República brasileira: Prudente de Moraes, figura de proeminência nacional, umbilicalmente ligado a Piracicaba e, mais intimamente, à câmara municipal cujo prédio carrega seu nome.
ACHADOS DO ARQUIVO – A série “Achados do Arquivo” é uma parceria entre o Setor de Gestão de Documentação e Arquivo, ligado ao Departamento Administrativo, e o Departamento de Comunicação Social da Câmara Municipal de Piracicaba, com o objetivo de divulgar o acervo que está sob a guarda do Legislativo. As matérias são publicadas às sextas-feiras.