João Ulysses Laudissi
Ler não é apenas decifrar palavras; é permitir-se um encontro com o invisível que habita o texto. O escritor, ao criar, derrama nas linhas não só ideias, mas a alma que o moveu a escrevê-las. O leitor, por sua vez, quando se dispõe a mergulhar verdadeiramente na leitura, entra nesse mesmo espaço de revelação. É um encontro silencioso entre duas consciências — uma que escreve e outra que desperta.
No mundo moderno, onde as informações se amontoam e a pressa dita o ritmo das percepções, ler tornou-se quase um ato de resistência. É preciso desacelerar para compreender que um texto não é apenas um conjunto de letras, mas um organismo vivo que pulsa à medida que é lido. A leitura profunda não é consumo; é comunhão.
Há livros que passam por nós sem deixar rastros, e há outros que nos atravessam, transformando quem os lê. Isso ocorre porque certas palavras não são apenas ditas, são sentidas. Tocam regiões da alma que nem o autor, talvez, soubesse existir. O bom leitor é aquele que lê com os olhos do espírito — e não apenas com os da mente.
Ler é um exercício de presença. É estar inteiro diante do texto, permitindo que ele diga mais do que aparenta dizer. Quem lê verdadeiramente, escuta. Escuta o som do silêncio entre as linhas, o sussurro do autor, o eco das próprias memórias.
Quando a leitura se torna hábito, ela molda a forma de pensar, afina a sensibilidade e alarga o horizonte. É por isso que um povo que lê pensa melhor, questiona mais e se deixa manipular menos. Ler é, portanto, um ato político e espiritual ao mesmo tempo.
A leitura é, em última instância, uma forma de autoconhecimento. O texto revela o autor, mas também revela o leitor a si mesmo. Porque, no fundo, toda boa leitura é um espelho — e, diante dele, vemos refletido aquilo que muitas vezes não ousamos encarar.
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João Ulysses Laudissi, engenheiro, especialista em qualidade e professor, dedica-se a análises, gestão e educação.