Adilson Roberto Gonçalves
A COP 30 começa em menos de 20 dias em Belém do Pará, cercada por vários desafios, polêmicas e também esperanças. O mundo discutirá rumos para um futuro sustentável que já nos bate à porta, feito as ondas do mar que avançam por praias, destruindo construções marítimas. Sinais das mudanças climáticas e eventos extremos são muitos. A causa do aquecimento global devido à queima de combustíveis fósseis também já está comprovada. Falta o cérebro humano entender que se trata de sobrevivência da própria espécie e tomar atitudes.
Na conferência, o Brasil quer lançar um programa de rastreabilidade de embalagens e resíduos rotulados como reciclados, começando pelos plásticos. Anunciado como “Recircula Brasil”, pretende-se computar quanto desses materiais realmente voltam a integrar os ciclos econômicos, para onde vão e o que é feito com eles posteriormente. Muitas empresas apresentam dados de reciclabilidade de seus produtos – embalagens, principalmente – que não podem ser devidamente aferidos.
A maior parte dos plásticos que utilizamos é de fontes fósseis, sendo o petróleo a ocupar o primeiro lugar. Esses materiais são compostos por polímeros obtidos da reação de moléculas mais simples, obtidas pela indústria petroquímica a partir do craqueamento do petróleo e separação de seus componentes. Boa parte irá para a fabricação de embalagens, que possuem um tempo de vida muito curto, ainda mais se compararmos com o tempo de formação do petróleo (milhões de anos) ou mesmo com o da prospecção, extração, transporte e refino pelo qual ele passa. Cavamos fundo no planeta para produzir embalagens que vão parar rapidamente em aterros e lixões.
A economia deve ser circular, como são os processos biológicos. A palavra resíduo não existe na natureza, pois, ainda que algo reste de um processo, ele será utilizado em outro sistema. O balanço de massas, portanto, é sempre nulo em sistemas equilibrados, o que não acontece com os processos em que há intervenção humana. Sempre convivemos com restos e resíduos que precisam ter um fim adequado porque não integraram, ainda, sistemas biológicos. A reciclagem é uma forma de mitigar tal comprometimento, mas vemos pelo que vai parar nos rios, lagos e oceanos, além de terrenos, lixões e aterros, que estamos muito longe de cumprir metas razoáveis de reciclagem. A reciclagem energética é outra alternativa, em que os resíduos – lixo doméstico, por exemplo – seriam queimados para obter energia, diminuindo seu volume, mas a possibilidade é comprometida pela qualidade e segurança dos incineradores. Podemos até queimar os materiais, desde que os novos resíduos não sejam ainda mais tóxicos e danosos.
Alguma rastreabilidade já existe por adesão de alguns setores industriais e a proposta do “Recircula Brasil” é criar um selo de comprovação da reciclagem efetiva que será utilizado pelas empresas. De qualquer forma, a quantidade de lixo depositado ou boiando por aí continua a ser a medida direta de nossa incapacidade de integrar o grande ecossistema chamado Terra.
Adilson Roberto Gonçalves, pesquisador da Unesp – Rio Claro