Gregório José
Durante boa parte do século XX, trabalhar 12 horas por dia era sinal de honra. O sujeito que chegava em casa só pra ver o cachorro dormir achava que estava vencendo na vida. Hoje, a lógica se inverteu e, vencer é conseguir almoçar sentado e não responder e-mail no sábado.
Uma pesquisa recente do LinkedIn mostrou que quase 40% dos jovens aceitariam ganhar menos só pra trabalhar de casa ou em esquema híbrido. Ou seja, preferem tempo livre a salário cheio. É quase uma revolução silenciosa – o grito de independência do home office.
Enquanto isso, alguns empresários se arrepiam com a ideia de reduzir jornadas. Falam em “queda de produtividade”, como se o trabalhador rendesse mais só por estar trancado 10 horas no escritório. A Islândia, a Espanha e até a Alemanha já testaram semanas de quatro dias – e, a surpresa é que ninguém morreu de preguiça.
Agora, o Brasil começa a flertar com a mudança. Parlamentares discutem cortar a jornada semanal para 40 ou até 36 horas. É um começo tímido, mas simbólico e talvez estejamos descobrindo que a vida não cabe numa planilha.
Porque, no fim das contas, ninguém sonha em ser o funcionário do mês da própria exaustão. Trabalhar é preciso – mas viver também é expediente. Por isso os operadores por aplicativo estão tão em alta.
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Gregório José, jornalista, radialista e filósofo