Cidades inteligentes são cidades sustentáveis

 

Rafael Jacob

 

Nos últimos anos, o conceito de cidades inteligentes ganhou espaço nos debates sobre o futuro urbano. Fala-se em sensores, aplicativos e automação como se a tecnologia, por si só, fosse capaz de corrigir todos os nossos desequilíbrios. De fato, as inovações são bem-vindas e devem ser implementadas — mas a inteligência de uma cidade não está apenas nos equipamentos que instala, e sim na sabedoria com que escolhe seus caminhos.

Piracicaba já foi um exemplo dessa sabedoria. Em 2010, liderava o ranking nacional do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) entre os municípios com mais de 200 mil habitantes. Era motivo de orgulho e referência para o país. Mas, de lá para cá, o indicador tem mostrado uma trajetória descendente. O que se perdeu não foi apenas posição no ranking, mas também o rumo de um projeto coletivo de cidade.

O IDH reflete o equilíbrio entre renda, saúde e educação — três pilares diretamente ligados à sustentabilidade. Quando uma cidade é ambientalmente equilibrada, economicamente ativa e socialmente justa, seu desenvolvimento humano floresce. Esse é o verdadeiro tripé da sustentabilidade: sociedade, meio ambiente e economia caminhando juntos. E por economia, não se entende guardar recursos públicos e deixar faltar o essencial. Ao contrário, trata-se de utilizar cada centavo com inteligência, investindo para melhorar a qualidade de vida das pessoas, gerar oportunidades e preservar o que é comum a todos.

Planejar o futuro urbano exige visão estratégica e coragem de pensar além do imediato. É compreender que uma rua bem projetada evita enchentes, que áreas verdes reduzem o calor e aumentam a saúde coletiva, e que um transporte público eficiente conecta não apenas pontos da cidade, mas também as pessoas entre si. Urbanismo é, antes de tudo, a arte de organizar a convivência humana.

A tecnologia pode — e deve — ser aliada nesse processo. Iluminação inteligente, sistemas de monitoramento ambiental, painéis solares, reaproveitamento de água e gestão digital de resíduos são ferramentas que tornam o cotidiano mais eficiente e sustentável. Mas nenhuma inovação substitui o olhar humano sobre o planejamento. Sem visão, até o melhor aplicativo perde o sentido.

Piracicaba tem vocação para ser novamente exemplo. Para isso, precisa resgatar o hábito de planejar com profundidade e agir com propósito. Sustentabilidade não é apenas um termo bonito em planos de governo; é um compromisso prático com o futuro. E esse futuro depende das decisões de hoje — do modo como investimos, preservamos e cuidamos do espaço que compartilhamos.

Uma cidade inteligente é aquela que usa a tecnologia para servir às pessoas, e não o contrário. Onde o progresso é medido não apenas em megabits, mas em bem-estar. E onde cada obra, cada árvore e cada gesto coletivo reforçam a certeza de que o desenvolvimento só é verdadeiro quando inclui, respeita e melhora a vida de todos.

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Rafael Jacob é Mestre em Engenharia pela Escola Politécnica da USP, Sócio Fundador da RSafe Seguros, Secretário de Organização do Partido Verde e Membro da bancada dos Comentaristas da Rádio Educadora de Piracicaba.

 

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