Segundo o antigo adágio popular, “aqui se faz, aqui se paga”. Embora ninguém consiga ludibriar a justiça divina, esse conceito não pode ser utilizado indistintamente, nem interpretado de forma superficial. Essa crença assume a existência de um Deus punitivo, conforme os antigos hebreus, numa visão antropomórfica do Altíssimo, nivelando-o às suas paixões. O Mestre Nazareno, cuja missão foi aperfeiçoar a Torá, desvirtuada pelos rituais judaicos e interpretações equivocadas, esclareceu que “a cada um segundo as suas obras” (Mateus, 16:27), mas Deus é amor (1 João, 4:8). Não existem “pecados” sem remissão, conforme a trilogia da redenção, contida nas suas três parábolas: a dracma perdida (Lucas, 18:8-10), a ovelha desgarrada (Lucas, 15:1-7) e o filho pródigo (Lucas, 15:11-32). Contudo, Jesus não foi reconhecido como o Messias pelos judeus, e a sua Boa Nova não foi assimilada de forma satisfatória nem mesmo entre os cristãos.
Em todas as épocas da história, sempre existiram as orientações divinas. Mas, inúmeros indivíduos continuam recalcitrando nos mesmos equívocos, devido aos condicionamentos mentais negativos, permanecendo em um ciclo expiatório (reencarnações compulsórias), há milênios. Geralmente evoluímos a passos rápidos no aspecto intelectual, mas a conquista dos valores morais tem sido lenta, em virtude do grande apego ao mundo material, transitório, em detrimento das conquistas espirituais que são eternas. Mesmo aqueles que frequentam com assiduidade os templos religiosos ainda não conseguiram compreender a importância de interiorizarem os ensinamentos de Jesus. Em uma análise crítica dos que apenas aparentam serem verdadeiros cristãos, o Espírito Emmanuel (XAVIER, F. C. Pão Nosso, cap. 13) cita que “a maioria dos católicos-romanos pretende a isenção das dificuldades com as cerimônias exteriores; muitos protestantes acreditam na plena identificação com o Céu tão só pela enunciação de alguns hinos, enquanto enorme percentagem de espiritistas se crê na intimidade de supremas revelações apenas pelo fato de haver frequentado algumas sessões”.
O Espiritismo, a terceira revelação divina aos homens, amplia os ensinamentos de Jesus, esclarecendo que todas as almas evoluem até se tornarem Espíritos puros, e mesmo que Deus nos tenha concedido o livre arbítrio, isso está condicionado a lei de causa e efeito. Assim, ao analisar os equívocos humanos e as suas consequências, o apóstolo dos gentios (Atos, 3:19) disse: “Arrependei-vos, e convertei-vos, para serem apagados os vossos pecados, e para virem assim os tempos do refrigério pela presença do Senhor”; uma tarefa individual e intransferível. Aqueles que já despertaram para o Cristo, ao analisarem as iniquidades cometidas, sentem-se desconfortáveis. Ao se arrependerem, surge o remorso e o desejo de ressarcir as suas vítimas; isso irá acompanhá-las até que consigam saldar esse débito moral, nesta ou nas próximas reencarnações. Somos Espíritos imortais, vivendo uma experiência humana, assim, é fundamental aproveitarmos todas as oportunidades evolutivas que nos foram concedidas.
Mesmo estacionado no seu patamar, o Espírito nunca regride em seu processo evolutivo, e aqueles com pesados débitos morais, eventualmente arrependem-se de seus crimes. Todavia, podem se sentir frustrados, quando na tentativa de atenuar o seu remorso através da reparação, são informados que as suas vítimas deixaram a esfera carnal. A doutrina espírita esclarece que ao agredirmos um indivíduo, prejudicamos toda a sociedade, direta e indiretamente. Portanto, essa compensação tanto pode acontecer através do exercício da caridade com outras pessoas ou através de ações que beneficiem a comunidade de uma maneira geral. Comumente, isso também acontece em nova reencarnação, ressarcindo aqueles que foram lesados em um reencontro dentro do mesmo núcleo familiar.
Alvaro Vargas, Eng. Agrônomo-Ph.D. Presidente da USE-Regional Piracicaba, palestrante espírita