Semana Municipal – Sensibilização à perda Gestacional e Neonatal é tema de roda de conversa

Encontro teve como foco os depoimentos de mães que tiveram perdas e foram silenciadas

 

Debate aconteceu por iniciativa da vereadora Rai de Almeida e contou com depoimentos que enfatizaram o silenciamento de mães que sofreram perdas

 

Como parte da Semana Sensibilização à Perda Gestacional e Neonatal, instituída por meio do decreto legislativo 27/2025, por iniciativa da vereadora Rai de Almeida (PT), foi realizada, na noite desta quarta-feira (15), uma roda de conversa sobre o tema, na sala de reuniões do prédio anexo da Câmara. O encontro teve como foco os depoimentos de mães que tiveram perdas e foram silenciadas, não foram reconhecidas como mães e não tiveram o direito de viver e compartilhar o luto.

Participaram do evento, além da vereadora Rai de Almeida, as mães Amália Ranaldo, Natalia Alleoni, Amanda de Araújo, Fernanda Moraes, Carolina dos Anjos, Larissa Leite, Mariana Pereira, entre outras. Algumas delas, que tiveram perdas gestacionais e/ou neonatais, compartilharam vivências semelhantes, marcadas pela falta de acolhimento e pela invisibilidade do luto.

A primeira a falar foi a vereadora Rai de Almeida, que relatou ter sofrido a primeira perda gestacional há 51 anos. Ela contou que depois da dor veio o silêncio. “Hoje temos a oportunidade de nos solidarizar e falar sobre um luto que vivo desde os meus 19 anos”, afirmou. Disse ainda que vivia um relacionamento abusivo e estava muito machucada quando foi ao hospital. “Ignoraram a minha situação de violência e a criança já estava morta dentro de mim”, relatou.

Rai engravidou novamente, mas entrou em trabalho de parto aos seis meses de gestação, e a filha não resistiu. “Não tive a oportunidade de vê-la. Deram um nome que eu não escolhi e a registraram. Foi enterrada sem sobrenome e esse pai nunca falou sobre isso”, contou, dizendo que foi uma dor abafada, que bloqueou por anos.

Larissa Leite compartilhou suas três perdas. A segunda filha nasceu com 39 semanas e um dia de gestação e, após complicações, faleceu. “Me silenciei por sete anos após a minha primeira perda. Meu marido só soube quando perdemos nossa segunda filha”, disse. Para ela, é necessário divulgar e conscientizar sobre o tema, pois muitas mães em luto ouvem frases que não ajudam, ditas por desconhecimento e não por maldade. “Sempre me retirei do lugar do sofrimento, mas não da dor”, afirmou. Hoje Larissa trabalha como doula.

Amália, psicóloga, destacou a importância da Lei Federal 15.139/2025, que institui a Política Nacional de Humanização do Luto Materno e Parental e altera a Lei 6.015/1973 (Lei dos Registros Públicos), garantindo o registro de criança nascida morta. Ela ressaltou a necessidade de protocolos e capacitação profissional para o amparo adequado às mães, além da importância de vivenciar o luto. “É importante guardar recordações do bebê, como mechas de cabelo, fotos ou roupas. Isso pode ser feito por outra pessoa e acessado pela mãe quando ela se sentir pronta”, explicou.

Carolina dos Anjos, doula, observou que a sociedade não sabe lidar com a dor. “As pessoas querem consolar, acabar com a dor, mas o luto é uma dor que não acaba. Somente aprendemos a lidar com ela”, disse.

Giuliana, doula, relatou o caso de uma servidora pública de Limeira que perdeu o bebê e precisaria retornar ao trabalho. O episódio motivou a Câmara daquele município a aprovar uma alteração no Estatuto dos Funcionários Públicos, garantindo licença de 180 dias em casos de parto de natimorto, mediante certidão de óbito. “A mulher é silenciada quando enfrenta o luto perinatal e sofre pelo não reconhecimento como mãe, porque não tem o filho vivo. Então, não é lembrada”, afirmou, ressaltando também da importância de acolher os pais que vivenciam essa dor.

Natália, bailarina, contou que encontrou na dança a força para continuar. “Dançar é rezar com o corpo”, disse, convidando todas as mães a acenderem uma vela em homenagem a cada filho que não sobreviveu. O ato simbólico foi realizado em frente à Câmara, encerrando as atividades da noite.

O encontro emocionou todos os presentes, que se sensibilizaram com os relatos e reflexões. “A expectativa é de que, a partir dessa vivência, novas iniciativas surjam para que o luto materno seja reconhecido e respeitado cada vez mais”, afirmou a vereadora.

PROJETO – A Semana de Sensibilização à Perda Gestacional e Neonatal, realizada anualmente na semana que compreende o dia 15 de outubro, tem por objetivo dar visibilidade à problemática da perda gestacional e neonatal; lutar pelo respeito ao luto de mães e pais que passam por essa experiência; contribuir com a sensibilização sobre o tema, disseminando informações e quebrando o tabu; dignificar o sofrimento e dar voz às famílias; além de promover a humanização no atendimento dos serviços voltados aos casos de perda gestacional e neonatal.

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