Alvaro Vargas
Embora o vocábulo “milagre” seja comumente utilizado, isso deve ser entendido como força de expressão, para eventos que a ciência ainda não consegue explicar. Entretanto, os milagres não existem, visto que seria contradizer as leis de Deus (que são perfeitas), sendo os relatos “milagrosos” da Bíblia eventos naturais. Jesus, como Espírito puro, ao curar cegos, leprosos e paralíticos, utilizou as suas energias. Quanto aos homens, estes, geralmente quando estão enfermos, suplicam ao Alto a cura de seus males fazendo inúmeras promessas, mas ao se recuperarem, esquecem-se completamente dos compromissos que assumiram perante a Divindade.
Analisando o nosso comportamento, o Espírito Joanna de Ângelis (FRANCO, D. P. Libertação do sofrimento, cap. 5), cita sete curas registradas pelos evangelistas, em que os beneficiados não aderiram à Boa Nova de Jesus: 1) Natanael Ben Elias, o paralítico descido pelo telhado na casa de Simão Pedro, em Cafarnaum (Mateus, 9:1-8). Além de não seguir Jesus, entregou-se às dissipações, que lhe trouxeram outros males, sucumbindo à morte inevitável; 2) o cego Bartimeu em Jericó (Marcos, 10:46-52). Recuperou a visão, mas não acompanhou o Mestre, seguindo adiante, na busca das atividades normais, até o momento que a morte o arrebatou; 3) os dos dez leprosos que tiveram as feridas cicatrizadas (Lucas, 17:11-19). Somente um retornou para agradecer ao Divino Médico. Mas, após expressar reconhecimento, também foi em busca dos prazeres, sucumbindo, tempos depois, ao fenômeno natural da morte; 4) a mulher hemorroíssa, que teve o fluxo de sangue detido, exaltou o Mestre alegremente (Lucas, 8: 43-48), mas retornou às suas origens, desaparecendo no tempo e sendo igualmente consumida pela morte; 5) o endemoniado gadareno (Marcos, 5: 1-20). Recuperou a lucidez mental sob o comando de Jesus, que o libertou da Legião de Espíritos infelizes que o atormentava, mas continuou na mesma cidade, sendo mais tarde devorado pela morte; 6) o cego de nascimento (João, 9:1-12). Curado, enfrentou a fúria dos sacerdotes confirmando o prodígio realizado por Jesus; no entanto não seguiu o Messias, morrendo de outras doenças; 7) o jovem epiléptico, (Mateus, 17:14-20) portador de obsessão lamentável. A pedido de seu pai recebeu a benção da saúde com a expulsão do Espírito imundo, entretanto, nem ele, nem seu genitor acompanharam o Senhor, após tão significativo favor, avançando no tempo até que a morte implacável os alcançou. Isso demonstra que as curas “milagrosas” não modificam, necessariamente, as disposições mentais dos indivíduos.
Porém, nem todos se comportaram dessa forma, visto que alguns possuíam “olhos de ver e ouvidos de escutar” (Mateus, 13:13). Maria de Magdala, a vendedora de ilusões e obsedada por Espíritos infelizes, foi curada por Jesus, passando a segui-lo. Foi por ele homenageada para anunciar a sua ressurreição (Marcos, 16:9), e acolhida após a sua desencarnação (XAVIER, F. C. Boa Nova, cap. 20. Pelo Espírito Humberto de Campos). A mulher adúltera, a quem ele impediu de ser lapidada pelos cruéis perseguidores (João, 8:1-11), renovou-se, acompanhando-o. Posteriormente, ergueu um lar para os infelizes quanto ela o fora. Arrebatada pela morte, prosseguiu no ministério de compaixão e amor em nome dele (Joanna de Ângelis, obra citada).
Por isso, Jesus esclareceu os seus discípulos que estavam ansiosos para curar os enfermos, dizendo: “Aliviemos a dor, mas não nos esqueçamos de que o sofrimento é criação do próprio homem, ajudando-o a esclarecer-se para a vida mais alta. A carne enfermiça é remédio salvador para o espírito envenenado. Sem o bendito aguilhão da enfermidade corporal é quase impossível tanger o rebanho humano do lodaçal da Terra para as culminâncias do paraíso”. (XAVIER, F. C. Contos e Apólogos, cap. 6. Pelo Espírito Humberto de Campos).
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Alvaro Vargas, engenheiro agrônomo-Ph.D., presidente da USE-Regional Piracicaba, palestrante espírita