Celso Luís Gagliardo
Sem jeito para matemática e raciocínio lógico, fiz o Curso Normal na Escola Emílio Romi, em Santa Bárbara. Suei frio nas aulas práticas sob os olhares críticos da professora Ariz Maria, mas concluí. Não levei adiante a profissão na sua essência, exceto por uma curta passagem no ensino especializado voltado a alfabetizar adultos, há muito tempo.
O professor é, talvez, a profissão mais decantada em prosa e verso. Muito se fala da “profissão-mãe” de todas as outras, pois todos nós – advogados, jornalistas, médicos, porteiros, zeladores, torneiros, pedreiros, balconistas, enfermeiros, atendentes, escriturários – passamos “pelas mãos” de vários professores nos diversos níveis da escolarização.
A transmissão de conhecimentos, através de métodos próprios, não apenas nos tira da escuridão do analfabetismo – inadmissível nos dias de hoje -, mas é também vetor para o nascedouro de talentos que farão a diferença mais tarde, exercendo suas profissões e, muitas vezes, contribuindo para a humanidade como um todo.
Não é novidade que o fator de sucesso no desenvolvimento das nações mais admiradas passa pelo investimento prioritário em Educação. Sem a disseminação efetiva do conhecimento, não teremos pessoas preparadas para exercer os cargos mais básicos – especialmente agora, com a tecnologia disponível e as mudanças ocorrendo a todo momento.
Em nosso país questiona-se muito a qualidade do ensino praticado e a valorização (ou desvalorização) do mestre educador. A fala dos mais maduros – de que os professores eram mais admirados e respeitados no passado do que atualmente – mostra que ainda temos um longo caminho a percorrer e desafios enormes para nos prepararmos para o mundo globalizado e em constante transformação.
O professor é aquele que, em sala, enfrenta o desafio de alinhar 20, 30, 40, 60 pessoas com diferentes interesses e expectativas. Em todos os níveis – do Ensino Fundamental ao Superior e além – ele se defronta, ali, nas horas de convívio, com as demandas da comunidade: os reflexos de famílias desestruturadas, pais que não educam seus filhos, alunos que não se interessam em aprender e querem apenas o diploma.
Embora aquele grupo da sala se reúna apenas para aprender a matéria lecionada, temos ali uma fotografia real do que vai na sociedade, nas relações humanas – para o bem e para o mal. O professor mais preparado acaba sendo um pouco pai, psicólogo, amigo e até conselheiro de alunos – muitos desesperançados, desmotivados ou enfrentando problemas emocionais.
Um professor pode encarar a nobre profissão como missão de vida. Sua dedicação, habilidade, competência e resiliência fazem a diferença na vida de tantos outros: forma cidadãos, promove o desenvolvimento integral – cognitivo, social e emocional. É uma doação incomum, que ultrapassa os limites frios do simples exercício de um cargo.
Estas linhas são uma homenagem singela a todos os que militam na Educação – direta ou indiretamente. Porque muitas vezes somos professores também fora das salas de aula, quando amparamos, orientamos, ouvimos, damos exemplos, corrigimos e estimulamos.
Um abraço a todos que me transmitiram conhecimentos e contribuíram para a minha formação. Uma homenagem a todos que se dedicaram – e se dedicam – à vida de educador social e inspirador, enfrentando adversidades, baixos salários e até violência. Àqueles que não desistem de se aproximar dos alunos para entender suas paixões e sonhos.
O mundo necessita de vocês. Mesmo com a Inteligência Artificial e a tecnologia abundante, o professor continuará compartilhando saberes olho no olho – e tocando na alma humana porque transforma vidas, despertando no aluno o desejo de aprender e de ser mais.
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Celso Gagliardo, jornalista, profissional de Gestão, Recursos Humanos e Comunicações