Cidadão coca-cola

Camilo Irineu Quartarollo

 

“No dia em que começarem a falsificar Coca-Cola, vou me preocupar” – palavras de Tarcísio.

Sua última piadinha lhe trouxe um desconforto eleitoral. Parece que esse governador vai à Faria Lima, mas não toma do uísque, das bebidas caras ou dos drinks deles! Também não é baladeiro. É um apreciador do xarope escuro, gasoso e ácido, um excelente desentupidor de pias, contudo provoca arrotos e peidos, mais um motivo para discrição.

Perguntado sobre as mortes da Operação Verão na Baixada Santista soltou o verbo assim: “E aí o pessoal pode ir na ONU, pode ir na Liga da Justiça, no raio que o parta, que eu não tô nem aí”. O tal é caudatário da ultradireita, cuja marca é a mesquinhez em se isentar dos problemas que afetam os mais vulneráveis. Se mostrou um leiloeiro convicto de bens públicos. Poderemos viver o caos no estado pelo desmonte e falta de empresas e serviços públicos, pois tudo vai para as privadas. Novos pedágios do Free Flow, não é remodelagem dos convencionais antigos, são sucessivos pedágios virtuais e em maior número – parece que deram cria! A cobrança é draconiana por um sistema de passou-pagou, constante de um site que você tem de consultar, se não pagar é multado e fica com pontos na carteira. Quem ganha? As concessionárias privadas, claro.

Ao mal da ciência, há um desmonte da escola pública em São Paulo, às moscas, caindo o teto e profissionais mal remunerados. É incrível o amadorismo com o qual anticiências induzem o povo a sofismas estapafúrdios, sem a mínima preocupação com a coletividade. O ex-presidente, atualmente detido em casa, dizia que brasileiro “pula no esgoto e não acontece nada” – ora, seríamos cobaias?! Se quiser, ele que se chafurde.

Essa é mais uma teoria antivacina produzidos pelas fakes de cidadão-jacaré ou cidadão coca-cola.

O estado ao qual Tarcísio foi eleito governador é o mais afetado pela contaminação do metanol, já pegaram muitas fábricas clandestinas e rótulo trocado é o que não falta, nem tampas para escândalos a borbulhas e ele ainda não está preocupado!

Houve um surto de contaminação nos anos noventa. Não havia remédio como os que o Ministério da Saúde importou recentemente. Naquela época, os médicos usaram a cachaça, com alto teor de etanol, álcool bom, para competir com o metanol, venenoso, na absorção pelo fígado. Isso impediu a ação metabólica e deletéria do metanol no organismo. O metanol ficava no corpo, mas se decompunha sem maiores prejuízos da saúde.

É possível que recentemente também, o metanol estava sendo misturado à cachaça antes dos casos letais dos drinks aparecerem. Para quem toma um pequeno drink ou uma vodka a concentração do metanol é grande. É por isso que está se dizendo que se morriam bêbados na calçada e ninguém ligava, agora com a mistura de metanol nos drinks estão morrendo jovens na balada.

Luiz Nassif, no seu artigo “O desmonte silencioso que envenenou o mercado de bebidas no Brasil”, denuncia a extinção da Sicobe – Sistema de Controle da Produção  de Bebidas.

Se você é um cidadão coca-cola, isso não o preocupará. Afinal, para quê fiscalização, né, cidadão?!

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Camilo Irineu Quartarollo, escrevente e escritor, ensaísta, autor de crônicas, historietas, artigos e livros, como Contos inacreditáveis da vida adulta

 

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