João Ulysses Laudissi
A frase que li na traseira de um caminhão — “Ser de verdade dá mais trabalho que atuar” — me fez refletir sobre os momentos em que somos nós mesmos e aqueles em que precisamos representar um papel.
Com o tempo, crescemos, aprendemos e vamos nos moldando. Descobrimos coisas novas, aprimoramos o que já sabíamos e, muitas vezes, nos espantamos com situações que não combinam com os nossos valores.
Percebi então que, nas relações humanas, há ocasiões em que a autenticidade é essencial, mas também existem momentos em que adotar um “personagem” é a escolha mais adequada.
Alguns exemplos ajudam a ilustrar:
- Em certos contextos, a sinceridade absoluta pode prejudicar relações profissionais.
- Em encontros sociais ou cerimônias formais, assumir o personagem educado e adaptado garante harmonia e evita atritos desnecessários.
- Na mediação de conflitos, ser totalmente autêntico pode levar a tomar partido ou expressar ressentimentos. Nesses casos, vestir o personagem da imparcialidade abre espaço para o diálogo e para a construção de pontes.
- O personagem também pode funcionar como uma armadura: protege o nosso eu verdadeiro e nos ajuda a atravessar situações difíceis sem nos expor a julgamentos ou agressões.
Assim, o personagem não apaga quem realmente somos; ao contrário, preserva nossa essência quando a transparência total poderia causar mais prejuízos do que ganhos. É como uma diplomacia do ser: permite que nos revelemos sem correr riscos desnecessários.
Depois dessa reflexão, dei a seta, ultrapassei o caminhão e segui adiante. Ele carregava sua carga física e também uma mensagem instigante, enquanto eu levava comigo um novo motivo para pensar.
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João Ulysses Laudissi, engenheiro, especialista em qualidade e professor, dedica-se a análises, gestão e educação.