Rodrigo Weber
Nos últimos anos, eu tenho acompanhado de perto como Piracicaba se consolidou como referência no cenário paulista de corridas de rua. Em 2025, o município recebeu da Federação Paulista de Atletismo o 2º lugar no Prêmio Excelência de Corrida de Rua na região B, destacando-se como a cidade com maior número de provas organizadas entre 32 municípios. O calendário oficial da Prefeitura prevê 32 corridas e caminhadas apenas neste ano, um marco da crescente adesão local à prática esportiva. Eventos como a tradicional Corrida Turística, que em 2025 reuniu mais de 6 mil inscritos, simbolizam a popularização da modalidade e seu papel na promoção da saúde e integração comunitária.
Esse crescimento acompanha a tendência nacional. A corrida de rua, antes restrita a atletas de elite, hoje é prática comum entre amadores de todas as idades e perfis. Acessível, de baixo custo e com forte apelo social, tornou-se uma atividade democrática. Contudo, junto à expansão, surgem também desafios, sobretudo no campo da saúde dos praticantes.
Lesões: uma face oculta da popularidade
A literatura científica aponta que entre 65% e 80% dos corredores sofrem algum tipo de lesão a cada ano, mesmo em um esporte sem contato direto entre adversários. As causas vão desde a biomecânica inadequada, excesso de treinos, tipo de calçado, até fatores individuais como idade, sexo e biotipo. O joelho lidera como região mais acometida, seguido por tornozelos, quadris e coluna lombar.
Entre as lesões mais frequentes estão a síndrome patelofemoral, a síndrome da banda iliotibial, a fascite plantar e as fraturas por estresse. Tais condições são resultado, em grande parte, de movimentos repetitivos e sobrecargas mal dosadas. Em corredores iniciantes, que muitas vezes não possuem acompanhamento profissional, a vulnerabilidade é ainda maior.
Além do impacto físico, as lesões podem gerar consequências psicológicas, como frustração e abandono da prática esportiva, afetando a adesão a um estilo de vida ativo. Diante desse cenário, cresce a importância de estratégias preventivas.
O papel do treinamento de força
Pesquisas recentes reforçam aquilo que já observo na prática: o treinamento de força é um aliado essencial para corredores. Uma revisão publicada em 2025 mostrou que incluir exercícios de fortalecimento na rotina reduz significativamente a incidência de lesões, melhora a estabilidade articular, o equilíbrio muscular e a eficiência biomecânica. Entre corredores que praticam musculação, a incidência de lesões foi de apenas 27,4%, contra 57% entre os que não realizavam esse tipo de treino.
Os exercícios resistidos aumentam a tolerância dos tecidos a cargas mecânicas, reforçam tendões e ligamentos, e contribuem para maior resistência muscular. Estudos apontam também ganhos diretos no desempenho: melhora na economia de corrida, aceleração da recuperação e até redução nos tempos em provas curtas.
Flexibilidade e Core: fundamentos da prevenção
A prevenção, contudo, não se limita ao fortalecimento dos grandes grupos musculares. Eu sempre reforço com meus alunos a importância do treinamento de flexibilidade para reduzir a rigidez muscular e melhorar a amplitude de movimento, diminuindo a sobrecarga em articulações e tecidos. Já o fortalecimento do core – conjunto de músculos abdominais, lombares e do quadril – é fundamental para corredores. Um core estável garante melhor postura, absorção de impactos e distribuição equilibrada das forças durante a corrida, reduzindo riscos em joelhos e tornozelos.
Exercícios como pranchas, rotações de tronco, agachamentos e trabalhos excêntricos para quadríceps e isquiotibiais são apontados como eficazes tanto na prevenção quanto na reabilitação de lesões.
Caminhos para o futuro
O crescimento das corridas de rua em Piracicaba reflete uma tendência positiva de busca por saúde e qualidade de vida. Contudo, o aumento do número de participantes exige políticas de incentivo à prática segura. A divulgação de orientações sobre prevenção de lesões, a valorização do acompanhamento profissional e a integração de treinos de força, flexibilidade e core são caminhos fundamentais.
Mais do que apenas correr, acredito que se trata de correr com consciência. Assim, Piracicaba não apenas lidera no número de eventos, mas pode também se tornar referência na promoção de uma corrida sustentável e saudável, onde cada passo dado represente não só superação, mas também longevidade esportiva.
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A vida é curta demais para ser pequena. Ouse ser Grande
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Rodrigo Weber, professor, treinador de atletismo, mestre em Desenvolvimento Humano – Unesp, Bacharel em Esporte – USP