Rafael Jacob
O Supremo Tribunal Federal concluiu nesta semana o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, condenando-o pela tentativa de golpe de Estado. A decisão gerou debates acalorados. Seus apoiadores tentam vender a ideia de que vivemos o fim da liberdade de manifestação. Mas é justamente o contrário: apenas em democracia podemos falar, criticar, protestar e até mesmo questionar o próprio Supremo sem temer a prisão ou o exílio. Ditadura não concede esse direito a ninguém, oferece apenas a ordem de calar.
É preciso ser claro: quem atenta contra a democracia não está defendendo liberdade de expressão, mas sim o direito de oprimir. A história mostra isso com clareza: regimes autoritários começam prometendo ordem, mas entregam apenas medo e injustiça. Livros queimados, artistas perseguidos, universidades silenciadas e jornais fechados são marcas de ditaduras que ainda ecoam no século XXI. O ataque à liberdade de expressão é sempre o primeiro passo para a erosão democrática.
Bolsonaro e seus cúmplices queriam exatamente esse caminho. Buscavam o poder absoluto, a palavra única, o grito sufocando o diálogo. Agora condenado, ele representa um aviso: a democracia reage. O STF, longe de ser inimigo da liberdade, cumpre sua função de proteger a arena onde todos podem falar, inclusive os que hoje se dizem injustiçados.
É preciso lembrar que liberdade não é licença para mentir, manipular ou espalhar ódio. Quem confunde esses limites, de propósito ou por ingenuidade, acaba servindo de massa de manobra para os que sonham em apagar a democracia. A crítica é legítima, o debate é saudável, mas a tentativa de golpe é crime.
Alguns dirão que a democracia é lenta, barulhenta e imperfeita. Sim, ela é. Mas é exatamente essa imperfeição que a torna superior a qualquer ditadura. É no choque de ideias que nascem soluções. É no conflito civilizado que avançamos. O contrário disso é a escuridão, onde uma única voz, quase sempre armada, decide o destino de milhões.
O momento pede coragem. Não podemos esperar que só o STF faça o trabalho de defesa da democracia. Cabe a cada um de nós usar a palavra com responsabilidade, respeitar o contraditório, denunciar abusos e não se deixar seduzir por falsos messias que prometem “ordem” enquanto planejam apenas silêncio e injustiça. É nosso dever afastar, de uma vez por todas, o fantasma da ditadura em nosso país.
O julgamento desta semana não é o fim da liberdade, mas o início de uma nova chance de fortalecê-la. Se a democracia nos dá o direito de falar, também nos dá o dever de ouvir. O futuro do Brasil depende dessa escolha: seguir no caminho da coragem e da pluralidade, ou recair na escuridão onde a palavra vira crime.
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Rafael Jacob é Engenheiro Mecânico, Corretor de Seguros, Sócio Fundador da RSafe Seguros e Engenharia, Secretário de Organização do Partido Verde e Membro da bancada dos Comentaristas da Rádio Educadora de Piracicaba.