Gregório José
A mente humana é um campo em constante movimento, moldado por forças internas – como emoções, instintos e desejos – e por forças externas, como cultura, sociedade e economia. Quando observamos frases como “a vida não deve te expulsar da infância sem antes conseguir uma boa posição na juventude”, entramos em um dilema clássico da modernidade: o descompasso entre o tempo biológico, o tempo emocional e o tempo social.
A infância, que antes era um período protegido, tornou-se precocemente invadida por pressões adultas – enquanto a juventude passou a ser um território indefinido, muitas vezes estendido artificialmente pela insegurança econômica e emocional. A infância não é mais uma estação, mas uma porta frágil diante das exigências de um mundo que cobra produtividade antes mesmo da maturidade.
Neste contexto, a frase “trabalhe para viver. Mas por que desperdiçar a vida que ganha trabalhando para viver?” expõe um paradoxo existencial. Vivemos numa “sociedade do desempenho”, onde a liberdade de trabalhar virou uma prisão voluntária. O sujeito moderno acredita que é livre porque escolhe trabalhar, mas na verdade está submetido a uma forma de exploração interna – trabalha não apenas por necessidade, mas como forma de autoafirmação, mesmo que isso custe sua saúde mental e emocional.
A crítica às estruturas de valor também aparece em uma pergunta provocativa: “o mundo não seria lindo se as bibliotecas fossem mais importantes do que os bancos?”, afinal o capitalismo sequestrou a ideia de sucesso e a vinculou ao acúmulo, apagando a dimensão do saber como fonte de libertação. As bibliotecas representam o acesso democrático à reflexão, enquanto os bancos simbolizam o controle dos fluxos de poder e privilégio. A pergunta, então, não é apenas utópica – é revolucionária.
O ser humano contemporâneo vive entre tensões: ser ou parecer, produzir ou viver, seguir padrões ou expressar-se. A mente não é um estado fixo, mas um fluxo – e sua evolução depende do confronto com o novo, com o incômodo e com o outro. Viver, nesse sentido, é também filosofar: encontrar sentido onde a sociedade oferece só função; buscar beleza onde o sistema quer apenas utilidade; e sobretudo, preservar o direito de pensar, mesmo em tempos em que o silêncio parecer mais seguro.
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Gregório José, jornalista, radialista e filósofo