Neste espaço, eu tenho a oportunidade de falar, semanalmente, com você, meu querido leitor e minha querida leitora, a respeito de doenças que não estão na “agenda do dia”, mas que, embora possam ser raras, acometem muitas pessoas que, desavisadas, poderiam evitar passar por dificuldades com simples ações diárias. Hoje vou falar da Síndrome de Fournier, que pode ser prevenida apenas com higienização.
A Síndrome de Fournier, também conhecida como gangrena sinérgica ou de fournier, é uma doença infecciosa grave e rara, que atinge a região perineal e genital, entre o ânus e a genitália. De tal forma, a doença leva o paciente ao comprometimento dos tecidos moles da região afetada, ocasionada pela infecção bacteriana. Ao seu comprometimento, o paciente poderá sofrer de trombose dos vasos locais, levando a um estado de necrose do tecido.
A infecção bacteriana característica da doença é capaz de provocar a interrupção da circulação do sangue na região, o que leva ao estado de trombose e posteriormente morte do tecido. Nesse sentido, constata-se que os sinais que o problema apresenta podem ser bastante incômodos e dolorosos para o paciente. Entre eles, destacam-se: vermelhidão da região afetada; forte dor local; febre que pode ultrapassar 38ºC; mau cheiro e inchaço do períneo; calafrios; e drenagem da secreção serosa.
Assim sendo, tais lesões provocadas pela infecção ocorrem normalmente no escroto e no pênis, no caso dos homens, e na vulva ou virilha no caso das mulheres. As causas são variadas, dessa forma, a observação e a atenção aos sintomas é importante ser considerado.
PRINCIPAIS CAUSAS – Conforme dito, a causa da síndrome se dá devido a uma infecção bacteriana, havendo três especificações para essa infecção, podendo ser Gram positiva, negativa ou anaeróbia. Dessa forma, algumas das principais razões que levam o paciente a ter a infecção relacionam-se com a falta de higiene íntima; acumulo de bactérias em protuberâncias e enrugações da região; obesidade; infecções menores, como no trato urinário; evaporação do suor em excesso; sepse; e trombose. Assim também a condição tem como um dos principais afetados pacientes diabéticos e, em sua maioria, os homens são os mais acometidos pelo problema. Cirrose, hipertensão, e o uso indiscriminado de drogas e antibióticos também podem contribuir para o surgimento da doença.
DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO – O diagnóstico ocorre após a examinação do paciente por exames de imagem, como a ressonância e a tomografia computadorizada, como também exames clínicos e laboratoriais para análise da bactéria causadora da infecção. O especialista analisará a extensão e gravidade das lesões na região afetada, levando ao conhecimento da causa e dando início ao tratamento. Apesar de raro e grave, esse é um problema que tem cura, e existem alguns tratamentos que serão passados para o paciente conforme o diagnóstico e situação do estado do problema. Primordialmente a síndrome de Fournier é tratada através de antibióticoterapia e intervenção cirúrgica, onde ocorre a remoção do tecido infeccionado/necrosado e a drenagem dos fluidos purulentos.
Em casos severos, quando o tecido está muito comprometido, o especialista poderá realizar a cirurgia de reconstrução da região íntima. O tratamento também poderá ser realizado através do uso de medicamentos antibióticos, seja por via oral ou venosa. Entre eles, os mais utilizados são a Vancomicina, Penicilina, Clindamicina e Metronidazol.
Outra alternativa auxiliar para o tratamento da doença é a oxigenoterapia hiperbárica. Esse é um tratamento onde o paciente é submetido a inalação do oxigênio 100% puro sob uma pressão até 3 vezes maior que a pressão atmosférica. Desse modo, o oxigênio inalado trará efeitos terapêuticos para o corpo do paciente, combatendo infecções e levando o gás para as regiões afetadas, compensando assim a deficiência nas feridas. Com a reconstrução do períneo através da cirurgia em casos graves, o paciente poderá ser submetido ao procedimento de colostomia, com o intuito de evitar a contaminação da região pela excreção.
COMO PREVENIR A DOENÇA? – Visto que a causa da doença se dá pela infecção bacteriana do períneo, a síndrome pode ser prevenida mantendo a boa higienização da região genital, bem como evitar a ingestão de alimentos ricos em açúcar, que aumentam a proliferação bacteriana. Tratar dos problemas que podem desencadear a síndrome é outro passo a ser tomado, portanto, controlar a diabetes e evitar o consumo de álcool e drogas é um ponto necessário.
Paulo Soares, presidente do Caphiv (Centro de Apoio ao HIV/Aids, Sífilis e Heptatites Virais).