Alvaro Vargas
Segundo o adágio popular, “sempre devemos dizer a verdade, mas nem toda a verdade pode ser dita”. Realmente, mesmo as revelações divinas devem ser dosadas conforme a maturidade da Humanidade em recebê-la. O povo Hebreu, um dos grupos exilados de Capela, era o que apresentava a melhor condição de receber a primeira grande revelação, o Decálogo (XAVIER, F. C. A Caminho da Luz, pelo Espírito Emmanuel, cap. 7). Mas, para atingir tais condições, necessitou passar por um período de três séculos de servidão no Egito. Quando Moisés os convidou o seguirem rumo à terra prometida, os Espíritos superiores já haviam decidido pela desencarnação necessária de todos os hebreus durante a peregrinação de 40 anos pelo deserto, a fim de formar uma nação livre dos costumes adquiridos durante a escravidão. Só a sua descendência chegaria ao seu destino, junto daqueles que eram ainda jovens antes da jornada. Com certeza, se os hebreus soubessem o que os esperava, teriam refutado o convite de Moisés.
Jesus aguardou quinze séculos após Moisés para apresentar a sua Boa Nova, mas limitou as revelações divinas, aguardando mais dezoito séculos para regressar, conforme havia prometido (João, 14:15-17), trazendo o Consolador (Espiritismo). O período entre às três revelações, permitiu a Humanidade evoluir intelecto moralmente e ter condições de assimilar as suas instruções. Allan Kardec (O Livro dos espíritos, questão 798) cita que “o Espiritismo se tornará crença geral e marcará nova era na história, porque está na Natureza e chegou o tempo em que ocupará lugar entre os conhecimentos humanos. Terá, no entanto, que sustentar grandes lutas, mais contra o interesse, do que contra a convicção, porquanto não há como dissimular a existência de pessoas interessadas em combatê-lo, umas por amor-próprio, outras por causas inteiramente materiais. Porém, seus contraditores ficarão insulados, e se sentirão forçados a pensar como os demais, sob pena de se tornarem ridículos. Sua marcha, porém, será mais célere que a do Cristianismo, porque o próprio Cristianismo é quem lhe abre o caminho e serve de apoio. O Cristianismo tinha que destruir (o Paganismo); o Espiritismo só tem que edificar.”
A Humanidade já recebeu do Alto três grandes revelações, que são suficientes, no momento, para nortear a nossa jornada evolutiva, e nossa responsabilidade é buscar a interiorização desses ensinamentos e vivenciá-los, conforme as nossas possibilidades. No mundo espiritual, o grande filósofo grego, Sócrates, confirmou isso, durante uma entrevista ao Espírito Humberto de Campos (XAVIER, F. C. Crônicas de Além-Túmulo, cap. 25). “É inútil enviar uma nova mensagem reveladora. Os homens ainda não se reconheceram a si mesmos. São cidadãos da pátria, sem serem irmãos entre si. Marcham uns contra os outros, ao som de músicas guerreiras e sob a proteção de estandartes que os desunem, aniquilando os mais nobres sentimentos de humanidade. Mesmo entre os filósofos, as suas verdades não seriam reconhecidas, pois, quase todos estão com o pensamento cristalizado no ataúde das escolas. As suas lições valem somente como roteiro de coragem para cada um, nos grandes momentos da experiência individual, quase sempre difícil e dolorosa. Nosso projeto de difundir a felicidade na Terra só terá realização quando as almas reencarnadas, deixarem de ser cidadãos para serem homens conscientes de si mesmos. A Humanidade está muito longe de compreender essa fraternidade no campo sociológico. O mundo atual é a semente do mundo paradisíaco do futuro. Não devemos ter pressa. Nossa tarefa, para que os homens se persuadam com respeito à verdade, deve ser toda indireta. As criaturas humanas ainda não estão preparadas para o amor e para a liberdade. Durante muitos anos, ainda, todos os discípulos da Verdade terão de reencarnar muitas vezes”.
Alvaro Vargas, engenheiro agrônomo-Ph.D., presidente da USE-Piracicaba, palestrante e radialista espírita