Pedro Barbarrossa
Na mitologia grega, conta-se que um rei chamado Midas pediu ao deus Dionísio o seguinte: que tudo o que ele tocasse virasse ouro. Essa é a lenda do Rei Midas. Mas quem é o Rei Midas ao contrário nos dias de hoje? Resposta: a ideologia liberal.
Não importa o país, o tempo ou o alvo humano, tudo o que o capitalismo toca, vira lixo, destrói os laços, destrói a cultura de um povo, destrói, por fim, as próprias pessoas. Somos ensinados que é “natural” competirmos uns com os outros, que temos que ser melhores do que os outros, que a crueldade é justificada para se conseguir dinheiro e fama, e que, para além dessa realidade, nenhuma outra é possível. No capitalismo, sonhar é uma piada. Ou só existe o capitalismo ou não existe nada – eis o que fica implícito para todos nós. A ideologia liberal se traveste de Deus e nós a cultuamos constantemente. Já virou moda dizer que o capitalismo é inevitável, irreversível, ou até em alguns casos, que ele é “necessário”. Já virou moda falar do “empreendedor de si mesmo”, de que somos “vendedores e compradores ambulantes”, de que somos mera “mercadoria”. Ora, mas eu me pergunto, quem quer que nós pensemos assim? Quem acha legalzinho esse tipo de discurso? Não é o Tio Sam e o Papai Noel?
É essa ideologia norte-americana que está exportando os “kits de como devemos viver” para terras brasileiras, latinas, africanas, etc. Nós aprendemos que é lá que está a “verdade”, o “exemplo”, a “liberdade”. Mas não. Como repetia Tchekhov: “mentira, mentira, mentira”. E, de tanto mentir, o nariz do capitalismo já cresceu tanto que nem dez Pinóquios o superaria.
Não, nós não queremos mais viver consumindo como se fossemos animais. Não, nós não nascemos para ver os outros como inimigos. Precisamos recuperar a nossa fraternidade e a nossa dignidade humana. Não, esse não é o nosso destino! Nós pensamos, superamos obstáculos; não é possível que pensar num mundo justo e com uma educação de qualidade para todos e todas seja um simples sonho inalcançável. Afinal, não é uma certa galera aí que fala de “valores”? Que valores sociais estamos plantando?
São vários os nossos problemas, mas não é por acaso que quase todos eles possuem uma raiz em comum: o sistema capitalista. Precisamos urgentemente cortar o mal pela raiz. Pelas minorias, pelos movimentos sociais, pela Amazônia, pela cultura, pela educação, pela saúde, por nós mesmos e por quem virá depois.
A ideologia liberal, o capitalismo, esse Rei Midas ao contrário, há tempos que vem transformando muita coisa em lixo… Quando iremos acordar desse pesadelo?
______
Pedro Barbarrossa, graduando em Filosofia pela Universidade Federal de Pelotas