França: o povo reage à reforma da previdência

José Osmir Bertazzoni

 

Acompanhando as notícias sobre a revolta do povo francês contra a reforma previdenciária, me recordei de um fato ocorrido em minha vida num passado ainda recente.

Foi numa quinta-feira (27/06/2019) à noite, durante sessão legislativa da Câmara Municipal de Piracicaba – SP, quando então este escriba participava da reunião na qualidade de Diretor de Assuntos Jurídicos da Nova Central Sindical de Trabalhadores – NCST.

Por uma reação minha, contrária à fala do orador popular da ocasião (hoje vereador), covardemente acabei sendo agredido fisicamente por militante do Movimento Direita Piracicaba (MDP), grupo violento que se organizava no Brasil e quatro anos mais tarde invadiriam o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal, cometendo atos insanos como defecar na mesa dos ministros da Corte Suprema e destruir patrimônios nacionais históricos.

A agressão ocorreu por minha manifestação contrária à afirmação proferida na tribuna da Casa de que “o povo apoiava a reforma da Previdência”, sendo que esta reforma retirava direitos e dificultava a conquista dos benefícios pelos trabalhadores. A violência foi devidamente registrada por celulares e pela assessoria de comunicação da Casa Legislativa que ao final ensejou a condenação do agressor.

Dezenas de entidades nacionais e internacionais emitiram nota de repúdio em face a um cidadão que defendia a reforma previdenciária no Brasil que colocaria o fim do benefício aos mais necessitados. Naquele momento eu estava ciente que tal reforma protegia os mais ricos em detrimento da classe trabalhadora.

Em nota emitida pelo presidente do Conespi, Wagner da Silveira, o Juca dos Metalúrgicos, evidenciava que “em uma democracia, onde as pessoas têm direito à manifestação, é inadmissível a agressão simplesmente por não concordar com uma determinada posição”.

Lembrou Juca que o cidadão agredido era servidor municipal há mais de 40 anos, advogado e diretor do Sindicato dos Municipais, idealizador da criação da entidade, foi agredido quando ergueu as mãos ao se colocar contrário ao discurso feito na Tribuna Popular da Câmara por um dos organizadores do ato em defesa do presidente da República Jair Messias Bolsonaro, que pregando reformas contra o povo, declarava que “o povo brasileiro defende a reforma da Previdência Social”. Nesse momento foi agredido pelas costas, por um dos apoiadores do movimento, causando tumulto na galeria da Câmara, que foi repreendido pelo presidente da Casa.

A nota diz o seguinte: “O Conespi ratifica a sua luta em defesa da democracia e dos direitos dos trabalhadores e dos direitos sociais. É totalmente contrário à intolerância, ao fascismo, ao ataque aos direitos dos trabalhadores e mantém o seu compromisso de atuação firme e responsável em todos os fóruns que participa, com atividades diárias, na melhoria da vida de cada brasileiro, independente de raça, credo religioso e posição social. A agressão praticada de forma covarde contra o companheiro José Osmir Bertazzoni, pai de família, trabalhador, dirigente sindical, que tem um trabalho reconhecido mundialmente, inclusive com participações na OIT (Organização Internacional do Trabalho) em defesa dos trabalhadores, é uma agressão a todos os brasileiros de bem que respeitam as mais variadas posições e que querem e trabalham por uma sociedade justa e igualitária”.

Na minha concepção, o mais grave era que um trabalhador metalúrgico defenderia atos contra trabalhadores e contra o povo mais necessitado do país, defendia um governo que atacava direitos centenários da classe trabalhadora, carregava em si uma ideologização odiosa de uma direita que nascia desumanamente. Essa direita tornar-se-ia responsável direta e causadora da morte de mais de 800 mil pessoas no Brasil por falta de vacinação contra Covid-19. Essa mesma direita também se tornaria responsável pelo genocídio dos índios ianomâmis. Uma inversão de valores terrível, um ato inconsequente de barbárie transfigurada de ideal político, um ato insano que condenaria o povo a um futuro incerto.

A pergunta é: quem tem razão? Creio que hoje o povo francês dá a resposta que caberia a esse cidadão e aos demais brasileiros, lutando nas ruas contra o ato do presidente Emmanuel Jean-Michel Frédéric Macron que aumenta para 62 anos de idade o direito à aposentadoria do povo francês. Lembrando que nessa terra tupiniquim a aposentadoria se dará aos 65 anos para os homens, e 62 anos para as mulheres, graças ao apoio de pessoas como do vereador Fabrício Polezi.

_______

José Osmir Bertazzoni, advogado e jornalista

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima