Há autonomia naquilo que  está refém do mercado?

Thiago Deffende

 

Desde o início do novo governo (porém a mesma política), veio a debate algo que poderia ter sido pauta ainda anterior às eleições, mas ofuscou-se no discurso de fome e fascismo, mesmo tratando-se de algo imprescindível no assunto Economia, que consequentemente afeta a todos nós: a autonomia do Banco Central.

Com a Lei Complementar Nº 179 de 2019, sancionada pelo então presidente da república a mercê do grande sistema financeiro, o BACEN possuiu a ter um “novo” modelo de gestão, sendo falado ao povo que haveria, então, maior autonomia para combater inflação e juros altos sem depender necessariamente de um governo. Apenas esqueceram de nos avisar que não teriam autonomia em relação ao mercado.

Desde o início dos anos 2000, os governantes passaram a adotar uma política econômica que lhes garantiria o básico: resposta imediata em relação ao dólar e uma economia aquecida. Só não te contaram que essa estratégia seria basicamente elevar a taxa SELIC (taxa básica de juros do Brasil) a patamares que, em relação aos demais países do mundo, faria o Brasil então liderar a lista dos países com maiores taxas de juros reais (diferença “inflação – juros) no mundo (dado: MoneYou e Infinity Asset Management).

Você pode acabar deduzindo que, se essa medida fizer a inflação abaixar, lhe devolvendo o valor do seu dinheiro, e atraindo investimentos estrangeiros, está tudo bem. Não está. Está longe de ficar tudo bem.

O governante em exercício aplica essa política, consegue, portanto, “manipular” a taxa de câmbio e garantir mais quatro anos no planalto. E onde está o malefício deste modelo desastroso? No momento em que a participação da indústria nacional no PIB do Brasil é reduzido de quase 30% para incríveis 9%, ou seja, na tentativa de agradar os grandes bancos e os grandes investidores, houve o maior desmanche industrial que o mundo já viu num curto período de tempo, levando o país a depender cada vez mais de importações, vivendo da exportação de commodities e abandonando os manufaturados, que representam o futuro das nações. Fora isso, soma-se o fato de que, por consequência do fechamento da indústria, desemprego volta a assombrar o povo brasileiro, e nos apresenta a um dragão ainda mais perigoso que tudo que a história nos mostrou: a inflação na oferta, quando a moeda local perde seu valor em relação a moeda utilizada na importação de produtos que poderiam ser produzidos aqui mesmo.

Alta dos juros já não é mais eficaz contra essa doença, mas para o Banco Central “autônomo”, é. Se compromissaram com o combate à inflação, fracassaram, afetando a vida de milhões, menos de quem está agora no conforto de casa recebendo juros por um dinheiro que trouxe para o Brasil só para fazer turismo.

Enquanto o BACEN não se comprometer com o pleno emprego e combate à grave concentração de riqueza no país, não haverá nenhum tipo de autonomia, tanto ao governo, quanto ao sistema financeiro.

_____

Thiago Deffende, estudante de direito, presidente da JS do PDT de Piracicaba

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima